Desde que eu fui convidado para ser colunista do jornal, lá por 2016, a mesma história se repete a cada quinzena: uma dose de ansiedade bate na porta e nem pede licença ao entrar. Isso porque eu ainda não me acostumei com a ideia de ver um texto meu ali, em uma página inteira, entregue para muito mais pessoas do que eu posso imaginar. Na maioria das vezes eu fico com medo: será que vão gostar? E se eu falei algo errado? E se ninguém entender o que eu quis dizer?
Cresci em uma realidade diferente. Meus primeiros textos foram publicados em um blog improvisado que criei lá por 2009, e até hoje eu escrevo conteúdo inédito para publicar no meu site. A experiência é totalmente diferente, já que os comentários surgem minutos após a publicação. E é aí que vem aquele conforto ou desespero: agradei ou não.
Quando aceitei o convite para ser colunista, fiquei me perguntando como é que eu iria saber quantas pessoas leram a minha crônica. O que elas têm a dizer sobre a ideia que eu trouxe neste final de semana? E, claro, o pior dos cenários: e se ninguém estiver gostando do que eu escrevo e a minha página ser uma das mais ignoradas do jornal inteiro?
Preocupei.
No dia seguinte, recebi um e-mail.
Era de uma mulher que disse que precisou me agradecer por conta do meu texto. De alguma forma, ele fez ela literalmente levantar do sofá e procurar uma solução para aquilo que estava enfrentando. Eu, feliz da vida, respondi com entusiasmo sem saber que nas semanas seguintes chegariam outros feedbacks. Tem vezes que eu escuto alguém dizer que sempre acompanha as minhas crônicas e eu nem sei bem como reagir (olá, timidez). Quando alguém diz que se identificou tanto a ponto de acreditar que aquele texto foi escrito para si, o meu sorriso não cabe no rosto, e é aí que a minha pergunta recebe uma resposta.
Tem alguém aí? Tem.
Ufa.
Em tempo: nunca me imaginei cronista de um grande jornal, apesar de ser um dos meus sonhos. Contudo, estou lançando nesta semana um livro que reúne todas as crônicas publicadas por aqui nestes 2 anos, sendo algumas inéditas. Eu bem que pensei em chamar alguém mega-super-definitivamente-importante para dar a sua opinião sobre o livro e colocar tais elogios nas primeiras páginas, mas eu preferi retribuir os meus leitores de verdade — do senhor que lê este texto tomando cafezinho no boteco à amiga do tio do pai do sobrinho da minha mãe. Coletei todos os e-mails recebidos, entrei em contato e pedi licença: oi, tem alguém aí? Obrigado por me ler e por me deixar saber disso. Ah, sim: você me deixaria colocar um trecho do seu e-mail na orelha do meu novo livro? Aguardo um retorno, obrigado. Atenciosamente, Pedro.