É automático: sempre que uma pequena tragédia acontece, o nosso primeiro instinto é questionar: "por que comigo?". Reviramos todas as boas ações que fizemos ao longo da vida e queremos logo usá-las de justificativa, como se as mesmas nos bloqueassem de qualquer coisa ruim que possa acontecer. Acreditamos (e sabe-se lá porque) que a tragédia cairia melhor em outra pessoa (não sejamos hipócritas), e que somos bons demais para ter que passar pelo que estamos passando.
Talvez a má notícia seja que vamos passar pelo que tivermos que passar. É claro que as nossas boas ações são válidas, e que qualquer forma de caridade nos edifica como seres humanos, porém é insensato acreditar que isso serve de escudo. Estamos vulneráveis o tempo todo, seja para acidentes, dramas, catástrofes ou doenças. Todo o tipo de coisa ruim pode acontecer a qualquer momento, e eu sou daqueles que acredita que só vivemos o que tivermos que viver.
Tem uma frase que eu sempre repito quando algo ruim acontece: "fardos pesados não caem em ombros fracos". E é assim que devemos ser, então. Fortes. As coisas ruins acontecem com a gente porque estamos vivendo, e a vida é uma aventura perigosíssima e deliciosa. Ninguém nos garante que qualquer coisa vá ser fácil, ninguém nos vacina tanto a ponto de estarmos inteiramente prevenidos. Somos propensos a qualquer tragédia, mas também temos todas as condições de aprendermos a superá-las.
Coisas ruins acontecem com a gente porque precisamos melhorar constantemente. Sem cutucão não há evolução. Vivemos na tal zona de conforto, acreditamos tristemente que ao atingir os objetivos que nós mesmos criamos a vida está completa e fim de história. Mas e se pudermos mais? E se as dificuldades que aparecem pela frente forem exatamente aquilo que mais precisamos para o autoconhecimento, entendendo assim que a nossa capacidade transborda os limites que imaginamos anteriormente?
Sou um pouco devagar nessa tarefa de ver o lado bom das coisas. Insisto em imaginar o pior dos cenários e me visualizo como protagonista da maior das tragédias. Talvez eu me pinte nestes contextos ruins para ter uma ideia de como seria se algumas coisas fugissem do meu controle. E aí eu percebo, tombo após tombo, que nunca tivemos controle sobre nada. E que estamos fadados a entender, talvez um pouco tarde demais, que as coisas ruins acontecem com a gente porque estamos vivos. E que isso é uma coisa boa demais para deixar de ser lembrada a qualquer minuto.