Se tem uma expressão que eu odeio, essa expressão é "chegar lá". Tem sempre um monte de gente dizendo que você tem que fazer isso e aquilo, que o caminho para o sucesso é tal, ou ainda que a garantia de uma vida bem vivida é saber que você fez tudo o que estava ao seu alcance para "chegar lá".
Acontece que eu nem mesmo sei onde "lá" fica.
O que eu sei é que sempre gostei de trabalhar. Acredito que ter um trabalho não signifique apenas ter dinheiro para pagar as contas, e sim faça parte do processo de amadurecimento de cada um – é onde aprendemos a ter responsabilidades e comprometimento. Quando saí da escola, eu sabia que não encontraria de cara um emprego na minha área, e foi aí que eu comecei a trabalhar em uma loja de roupas femininas. Eu não fazia ideia do que era uma calça legging ou uma camisa chamise, mas encarei a empreitada mesmo assim. Ao chegar das 10 horas de trabalho diárias, eu ainda fazia trufas artesanais para vender para as clientes e complementar o orçamento. Afinal, me disseram que eu deveria "chegar lá".
Com o tempo, passei a trabalhar na minha área e conheci "pessoas CNPJ", daquelas que você olha e vê estampado na cara: "trabalho, trabalho, trabalho". Pessoas sem folga, sem final de semana, sem a dedicação necessária para os filhos. Imerso nesse universo onde a busca pelas metas de faturamento é o assunto mais importante, eu passei a acreditar que, sim, se o meu objetivo era empreender, eu deveria me converter para a religião do Trabalho 24/7 – 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Continuo acreditando que o trabalho é fundamental e continuo trabalhando durante as noites e aos finais de semana. Contudo, reparei que é uma característica dessa nova geração (sem generalizar): nós não queremos ficar ricos; nós não queremos construir empresas unicórnio (que valem mais do que US$ 1 bi); nós não queremos ser lembrados pelo tempo que nos dedicamos para transformar em dinheiro. Nós queremos ser felizes.
Tive um chefe que viu em mim uma oportunidade de negócio. Porém, quando ele percebeu que talvez eu não valesse o investimento, ele caiu fora e permitiu que puxassem o meu tapete sem dó. Eu me vi como um número, como uma garantia de retorno financeiro no final do mês. E só. E sinceramente? Eu dei tanto suor em troca que só não me arrependo porque tenho consciência de que, nessa história toda, eu cresci muito.
Talvez eu seja um empreendedor fajuto. Talvez eu não chegue lá porque acreditei que a minha vida, saúde e mente em paz eram mais importantes. Talvez eu não chegue lá porque eu goste do equilíbrio: a minha carreira vai bem, obrigado, e se ela se mantiver neste nível eu não preciso de mais nada. Talvez eu não chegue lá porque eu nem mesmo queira, ou talvez por achar que "chegar lá" é só mais uma das mentiras que nos contaram para que a gente trabalhasse, trabalhasse, trabalhasse... E mesmo assim nunca se sentisse satisfeito.
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