Era só mais um daqueles dias em que estamos em completa turbulência e não vemos a hora de aterrissar. Por mais que eu tentasse as saídas de emergência ou me beliscasse na tentativa de acreditar que tudo não passava de um sonho, eu estava em voo livre. Procurei pelas máscaras de oxigênio que não caíram, pelo bote salva-vidas que não estava no lugar que disseram que estaria, e o jeito foi me agarrar ao banco e torcer pela minha sobrevivência. Em meio ao caos, a mulher ao meu lado sorriu para mim e, sem alterar o tom de voz, pediu gentilmente: respira.Funcionou. Pouco tempo depois eu já estava em solo e o cenário era outro. Agora, em meio a calmaria, eu conseguia entender que quando tudo acontece de uma hora para outra, a gente se esquece de fazer o básico. Até porque, se a gente não respira nada acontece.
Sempre fui ansioso, apesar do meu diagnóstico particular não saber precisar o momento exato em que eu me tornei uma pessoa assim. Se a tarefa tem que ser feita daqui a 2 anos, eu provavelmente vou começar amanhã. Quer dizer, eu vou começar é agora mesmo, porque quem é que tem certeza do amanhã, né? Deixar para depois é uma expressão que nunca se encaixou no meu vocabulário.
Faço tudo e todas as coisas ao mesmo tempo. E, não, não é uma qualidade. É um defeito – e dos grandes. A vida exige uma rotina (não que a palavra tenha que vir acompanhada de uma cara fechada), e nós precisamos elencar prioridades e separá-las das urgências constantemente. Em todos os dias existirão dificuldades, e é em momentos assim que a vida acontece. A vida é cobrança, é desafio, é superação. Vida fácil não é vida, é passatempo.
Na situação em questão, eu não me lembrei de respirar. Precisei que me lembrassem e hoje eu sou grato demais por isso. Naquele respiro forçado (feche os olhos e conte até três; inspira e expira), a turbulência ainda existia, mas eu ganhei força para vencê-la. Colocar-se em ordem é o primeiro passo para resolver qualquer coisa, e as situações só ficam um pouco mais claras depois que renovamos o ar daqui de dentro – expulsamos as coisas ruins para dar espaço às coisas boas.
Eu deveria saber de tudo isso. Até porque, desde os meus cinco anos eu tive que aprender a lidar com crises de asma – bombinha de ar, nebulização, o pacote completo. Acontece que nós crescemos e acreditamos ser capazes de tudo. E quer saber? Nós realmente somos. Mas para atingir os objetivos e organizar os problemas que pulam na nossa frente, respirar é o básico. E eu nem finalizo falando sobre ganhar um novo fôlego, e sim sobre perceber que uma fração de tempo pode mudar tudo.