Cruzei com um amigo na rua e o seu rosto trazia claros sinais de preocupação. Ele havia largado o trabalho recentemente, e então ainda estava meio perdido sobre o que fazer, ou até mesmo para onde ir. Pareceu que havia uma urgência dentro de si que dizia que ficar em casa por um tempo se configuraria como um tipo de crime. Em meio a nossa conversa rápida, uma frase em particular me chamou a atenção: “esses dias eu acordei e parecia que estava me culpando por estar de pijama às dez horas da manhã em plena terça-feira”.
Quando o mundo se fragmentou (e olha que eu nem estou falando da Pangeia), uma parte da população começou a compreender que trabalhar diretamente de casa não é, necessariamente, o mesmo que ser “do lar”. Atualmente, de acordo com a configuração do mercado e as infinitas possibilidades de negócios, o cenário que se observa é um modelo de trabalho novo, o qual lentamente ganha mais e mais fôlego.
Quando chutei o balde e larguei o meu antigo emprego “tradicional”, eu quis buscar algo que me satisfizesse – tanto no sentido de fazer algo que eu realmente amo, como trabalhar da minha maneira e no meu horário. Não há espaço para hipocrisia: nos primeiros dias (e quem sabe meses) eu me achei um vagabundo. Que história é essa de estar no sofá de casa enquanto todo mundo está aí fora suando para ganhar o seu dinheiro?
Essa história se chama modernidade.
Posso citar vários profissionais que fazem o mesmo: tradutores, coaches, blogueiros, assessores de imprensa, artesãos, gestores de redes sociais, desenvolvedores web, designers, editores de vídeos, consultores, produtores digitais, redatores e por aí vai. O que dizer dos youtubers, os quais mesmo não sendo levados a sério conquistaram o seu espaço e chegam a faturar quantias entre 1 mil a mais de um milhão de reais. Mensalmente.
Empresas como Philips, 3M e Locaweb estimulam o home office. O resultado no faturamento tem sido assustadoramente positivo, uma vez que se reduz o tempo de deslocamento no atual trânsito caótico de qualquer cidade e ainda se ganha em qualidade de vida. Não é novidade nenhuma que muitas pessoas espalhadas pelo Brasil sustentam uma família inteira vendendo produtos de revista, como Avon e Jequiti.
Parece até frase de conclusão de redação do Enem, mas é verdade: o mundo mudou. As empresas tradicionais, com cartão ponto (Deus me livre) e horário rígido, ainda existirão, é claro. Assim como o receio em acreditar que, sim, é possível trabalhar esticado no sofá da sala. Desde que se tenha em mente que é preciso o mesmo esforço e dedicação. Do contrário, todo mundo continua sem receber no final do mês.
Eis aqui uma novidade: estou escrevendo este texto às 10 horas da manhã de uma segunda-feira. E ainda estou de pijamas.