Eu estava me sentindo mais pesado do que o normal. Nos ombros, algum tipo de fardo que eu já havia sentido antes, porém que não combinava comigo. A carga parecia ter sido adquirida do nada – como se eu tivesse jantado uma salada, mas o resultado fosse um pós-rodízio de pizza. O espelho denunciava um cansaço que não tinha origem bem definida, mas depois de rebobinar a semana, a resposta pareceu simples: aquela carga toda não era minha.
Dias atrás, aprendi que somos caçambas. Cada um tem espaço para o seu próprio lixo – isto é, toda aquela tralha emocional que a gente produz com o passar do tempo. E, como todo compartimento, a nossa caçamba tem um limite de capacidade. Cabem ali frustrações profissionais, saudades de quem ficou para trás, arrependimentos de amores finitos e obviamente todo o stress diário. Tudo aquilo que é produzido, armazenado e reciclado por nós. Ao menos, essa é a ordem do que deveria acontecer. Isso porque chega um momento em que a caçamba transborda e começamos a entulhar – problemas, decepções, meias desculpas.
Antes fosse só isso. Já no limite, começamos a vasculhar a nossa caçamba particular e encontramos um lixo que não é nosso. Aos poucos, sacos e mais sacos de problemas que foram arremessados na nossa caçamba, como se fossemos o local ideal de descarte. E é aí que você se dá conta: esse problema não é meu!
Mas acabou sendo.
Todos os dias nós escutamos, balançamos a cabeça, oferecemos conselhos, repartimos o nosso coração para que a história do outro caiba na gente. Somos humanos, somos solidários. A gente se importa porque poderia ter sido com a gente. O problema, nisso tudo, é não saber reciclar. Acho que todos nós deveríamos ser um pouco como os psicólogos nessas horas, sabe? Quando o paciente deixa o consultório, a tragédia vai embora com ele.
Descobri que o lixo dos outros é o que mais pesa. Ele ocupa um espaço que não é seu, em uma caçamba que não é sua. Muitas vezes ele faz um volume que não condiz com a relevância do seu conteúdo, e aí não sobra espaço para as dores que são verdadeiramente nossas.
A solução não é o egoísmo, a indiferença, ou até mesmo o afastamento. Problemas chegam (e continuarão chegando) a todo o momento, e cabe a nós filtrarmos. Como está a sua caçamba? É importante lembrar que ninguém pode se doar tanto a ponto de se doer. Até porque, geralmente quem traz a cura não é a mesma pessoa que nos fez adoecer.