

Convenhamos: quem é que sabe operar a saída de emergência de um avião? Eu, por exemplo, não faço a mínima ideia. E é aí que confesso que tenho um pouco de medo de altura. Contudo, quando dentro de um avião, esse pânico parece não existir tanto assim. Nada de "aerofobia", "alturafobia", ou "janelinhafobia”. O que eu tenho medo mesmo é da aterrissagem.
Quando nos permitimos voar, a altura pouco importa. Antes de comprar a passagem, ninguém mede os riscos. Todo mundo está sempre pensando somente na chegada. Dentro do avião, então, poucos são aqueles que olham para o lado de fora para cogitar a possibilidade de uma queda. E é neste ponto que eu afirmo que amar e voar são a mesma coisa.
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Embarcamos sem saber aonde exatamente iremos chegar – afinal, quem tem certeza sobre qualquer coisa? Voar e amar, nesse paralelo estranho assim mesmo, significam sair da zona de conforto. Voar (ou amar) é arriscar alto, é procurar um lugar que muitas vezes pode não ser aquele que esperávamos encontrar. É permitir que o nervosismo sente ao nosso lado, é indagar-se a todo o momento: será que tudo vai dar certo?
Voar (ou amar) é estar sujeito a turbulências, é aprender a conviver (pelo tempo que seja) com alguns rostos desconhecidos. É prender o fôlego nas horas menos constantes. É aprender que, quando existe tranquilidade, tudo pode dar certo. E o destino, tão breve, chega para quem viaja – seja de avião, seja de coração.
Mas a aterrissagem... Ah, dessa sim eu tenho medo.
Quando entramos em queda (essa mesma, a metafórica), sabemos que o voo vai chegar ao fim e já não há mais tempo para voltar atrás. Quando freamos, aviões e amores encontram uma pista curta a ser vencida. E ali, no fim, tudo pode ser um desastre ou uma aterrissagem perfeita. O que nos importa, entretanto, é chegar lá (seja lá qual for o significado da palavra). Queremos chegar aonde existe um novo amor, uma nova possibilidade, um novo ciclo. E somente aviões e amores nos permitem encontrar recomeços.
O mais curioso de tudo isso é que, a viagem chegando ao fim, sempre embarcamos novamente. Dessa vez, em busca de um novo destino, tão desconhecido quanto a rota que iremos tomar (quem um dia chegou a pedir para o piloto qual trajeto ele faria?). Antes disso, ouso dizer: nós estamos sempre procurando uma queda. Só para ver no que dá.