

Pode reparar: sua tia conta que conseguiu economizar o suficiente para comprar o carro que ela tanto queria e você a parabeniza sem muito entusiasmo. Em contrapartida, um dia depois o seu irmão chega para contar que aquela sua prima foi parar na sala de segurança do shopping porque foi pega furtando uma loja, e aí você se debruça para escutar com atenção todos os detalhes. Afinal, qual é o peso da felicidade alheia?
É natural: a felicidade dos outros não é tão atraente. Vai dizer que você fica feliz quando fica sabendo que o seu vizinho ganhou na Mega Sena? É claro que o primeiro pensamento é que vocês estão tão perto e que o sortudo deveria ser você. Se a sua amiga consegue viajar para Florianópolis todo verão, a sua cabeça é invadida por aquela frase que parece não querer ir embora: "quando é que vai chegar a minha vez?".
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E olha que nem é questão de inveja. Acredito que a felicidade alheia seja apenas uma notícia daquela seção do jornal que nós não gostamos tanto de ler. Passa batido, nós até ficamos sabendo, mas importância mesmo a gente não dá. Estamos ocupados demais, interessados unicamente com a nossa própria felicidade, e somos egoístas no pior sentido. Agora, nem venha me dizer que o fulano bateu o carro ou que aquele colega de emprego foi demitido porque qualquer um vai querer saber o lead completo. Quem? Onde? Quando? Como? Por quê? Infelizmente, a tragédia atrai.
E é exatamente aí que mora a negatividade. A partir do momento em que a notícia ruim soa muito mais atrativa do que a notícia boa, nutrimos a mente com a certeza de que o bom não é suficiente. Estamos sempre em busca dos imprevistos e das falhas, ao mesmo passo que escancarar a nossa própria felicidade na rede social é quase que uma tarefa diária. Agora me diz: é felicidade mesmo?
Nessa busca incansável pela felicidade plena, esquecemos que, no meio do caminho, um pouco de empatia pela conquista alheia não custaria nada. E você já parou para pensar que esse talvez seja justamente um dos passos necessários para o estágio de felicidade que tanto almejamos?
Comecei a me policiar. Continuo feliz por cada conquista minha, mas a partir de agora procuro responder diariamente a mesma pergunta: "hoje eu estou feliz por quem?". Tem sempre algum conhecido que merece um pouco da nossa felicidade, pois empatia é conexão, e isso faz muito bem. Acredite: tanto para ele, quanto para você.