

A visita ao supermercado foi um pouco diferente do habitual. Ao procurar meu biscoito preferido, encontrei massas variadas. Já na gôndola dos chás, sempre tão bem organizados, o que vi foram chocolates – ok, não tão ruim assim. A situação foi piorar mesmo quando nem os desodorantes tinham se salvado. Em seu lugar, pilhas e mais pilhas de papel higiênico. Para resumir o caos, tudo estava fora do lugar.
A reação mais óbvia foi a indignação. Com tão pouco tempo livre que temos, a ida ao supermercado deveria ser simples – tudo tem sempre um lugar definido, nós criamos um mapa mental automaticamente para facilitar a organização. Então... Pra quê mudar?
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Logo em seguida, senti aquele rasgo de abandono e desorientação. Como pode o supermercado que frequento há anos mudar tudo de lugar assim, de uma visita para outra, sem mais nem menos? Quem disse que o cereal ficaria melhor se mudasse de corredor? Por que diabos até o pão não está mais nas gôndolas em que sempre esteve? Afinal, quem é que comanda essa mudança toda? Quem é que decide quando tudo tem que mudar? Foi aí que, ao constatar que os refrigerantes (sim, péssima lista de compras) ainda estavam nos seus devidos lugares, a sensação de conforto retornou. Com ela, a dúvida: será que eu não deveria chamar isso tudo de comodismo? Até porque, no fundo, sempre acreditei que mudanças contínuas nos mantém em equilíbrio. Entre deixar uma reclamação para o gerente e sair satisfeito, escolhi a segunda opção. Nós rejeitamos o novo porque o novo nos faz pensar, agir, redefinir a rota.
Ao chegar em casa, aproveitando a deixa, resolvi mudar tudo de lugar também. Arrastei os móveis, forrei com cores vivas o que já andava esquecido, redecorei e fiz bagunça. Em suma, minhas próprias gôndolas ganharam novas certezas e vontades. Joguei no lixo as tristezas vencidas e reabasteci minhas prateleiras com outras perspectivas.
Os vizinhos só não se assustaram com a reforma porque ela foi íntima. A faxina foi interna, a barulheira ficou somente do lado de dentro mesmo. Decidi, impulsionado pelo acaso, o que iria manter comigo daqui pra frente, e abri espaço para toda e qualquer novidade, agora bem-vindas. Desde então, ando meio perdido e confuso, confesso. Às vezes me pergunto: onde tudo foi parar? Não sei. Melhor assim.