

A senhora que caminhava pelo centro da cidade mal percebeu quando uma de suas moedas quicou no chão e começou a rolar pela calçada. Quando se deu conta, o instinto gritou para ir atrás dos dez ou vinte e cinco centavos. Acontece que a moeda foi mais rápida, os passos da senhora não conseguiam acompanhar o caminho que a moeda percorria entre as fendas da calçada.
Determinada, ela não desistiu. Quando a moeda se viu sem saída e finalmente fez repouso, a senhora conseguiu enfim conquistá-la. Porque o que é nosso não pode ser de mais ninguém.
Existe uma certa dificuldade, inerente a todos nós, em deixar ir embora aquilo que não mais nos acrescenta. Recusamos até onde podemos, tentamos a todo custo encontrar um espaço vago que possa abrigar as nossas próprias moedas – quase sempre, pessoas que um dia tiveram parcela significativa em nossos dias. Valham elas cinco centavos ou um real, tenham pouco ou maior peso, a sentença é a mesma: ninguém está preparado para deixar ir.
À medida que certas pessoas viram moedas, ocupamo-nos demais dando valor para quem é cédula. E é aí que, quando uma dessas moedas escapa, unicamente por não ter o mesmo valor que um dia teve, ousamos uma captura tardia. Resistimos em deixar ir até mesmo quando aquilo que era nosso já não casa mais com a nossa rotina, com as nossas intenções. Acreditamos que, assim como aqueles potes velhos ou objetos sem uso definido, o melhor a se fazer é guardar aquilo que é nosso em alguma gaveta, porque um dia será útil. Ali moram pessoas, situações, fragmentos de fases da vida que nos recusamos a abandonar.
Encaixotamos pessoas, deixamos na sala de espera porque acreditamos que um dia teremos tempo. Porque todos nós precisamos de um estepe. Durante anos, Dolores Duran cantou que, mesmo juntos, cada qual tem seu caminho. Chegamos ao ponto do esgotamento – "e já não temos nem vontade de brigar".
E, mesmo a passarela divergindo e levando para direções diferentes, manter é sempre uma opção. Criamos reféns por medo, insistimos em um passado que não mais encaixa por puro egoísmo. Deixar ir, então, aparece como opção para os mais corajosos. Para aqueles que sabem significar um ponto final, que entendem que a vida é feita de despedidas esporádicas e que, vez ou outra, devemos cantar (e aceitar): fim de caso.