
Pronto: Netuno já está em Áries, para um trânsito de 14 anos. Até 2039, o planeta das brumas terá sua simbologia de imaginação e dissolução filtrada pela vibração de ações e inícios do primeiro signo. Em 25 de maio, será a vez de Saturno também entrar em Áries, alinhando-se a Netuno por alguns meses, mas tal conjunção, que se repete em cerca de 36 anos, tem o potencial de demarcar ciclos históricos duradouros.
Como os dois gigantes gasosos têm significados opostos — Saturno rege os limites e a realidade; Netuno, a transcendência e o ideal —, e ambos contrariam a expressão voluntariosa e imediatista ariana, temos para os próximos tempos uma combinação de tendências no mínimo complexa. Conjecturar sobre os rumos vindouros é esbarrar em incertezas, mas cabe olhar eventos e expressões individuais de conjunções passadas.
Na política, vale lembrar que na conjunção entre os dois planetas em 1917 houve a Revolução Russa e a criação da União Soviética. Ideais (Netuno) definidos pelo filósofo Karl Marx (que nascera sob uma tensão entre os astros) desenhavam uma forma de governo (Saturno) que abolia a monarquia e prometia um Estado operário.
A próxima conjunção, em 1953, coincidiu com a morte do líder Stálin e com crises naquele tipo de socialismo após a divulgação dos crimes da ditadura stalinista. Já na conjunção seguinte, em 1989, veio a queda do Muro de Berlim e a fatal derrocada do bloco socialista. E agora, na atual conjunção, qual o novo lugar da Rússia? Como seu modelo de gestão pode impactar o mundo?
Falando em Marx, em 1846, enquanto Netuno era descoberto no céu — por ocasião de mais uma conjunção com Saturno! —, o pensador alemão redigia com o amigo Engels o inédito Manifesto Comunista. Pouco antes, o materialista taurino Marx já dissera que “a religião é o ópio do povo”. Era sua visão de conflito entre o real (Saturno) e formas de escapismo (Netuno).
Nascido na conjunção de 1809, o naturalista e biólogo britânico Charles Darwin revelou em sua obra máxima, A Origem das Espécies, os resultados de uma visão da vida natural pautada na experiência (Saturno) que afrontava a leitura mítica e religiosa (Netuno) sobre a criação. Até hoje Darwin é tema de polêmicas em escolas e países de forte influência religiosa, mesmo que a ciência sustente suas teorias.
Aliás, a ciência é farta em exemplos de pensadores que lidaram com o confronto entre o tangível e o invisível, entre o real e o sonhado. Sigmund Freud, nascido sob um conflito angular entre Saturno e Netuno, estabeleceu as bases (Saturno) de uma ciência de investigação do inconsciente (Netuno). Muito antes, o filósofo René Descartes, nascido sob uma oposição entre os planetas em 1596, ajudou a definir os paradigmas da nascente ciência ao separar a realidade material (Saturno) da dimensão espiritual (Netuno).
Entre os comuns mortais, devo confessar que também nasci em momento de ângulo tenso entre os astros citados. E veja só: cá estou a buscar em símbolos e arquétipos (Netuno) pistas para entender os ciclos reais do tempo mundano (Saturno). Geminiano que sou, vivo a tecer conexões entre a realidade e a fantasia. E não fico sem literatura, cinema e música, artes que dão forma (Saturno) ao imaginário (Netuno).
Netuno, nos últimos 14 anos, andou por seu próprio signo, Peixes, deitando e rolando nas ficções, delírios e alucinações. Desde 2023, Saturno vem atrás, também em Peixes, nos chamando para o concreto da vida, cobrando por mentiras e falsificações. E agora ambos vão se juntar no belicoso Áries, o que garante polaridades inflamadas nas possibilidades de relação entre os dois arquétipos.
Fico aqui entre o receio de ver o empoderamento (Saturno) de hipocrisias religiosas (Netuno) e a esperança de haver regras (Saturno) que situem o devido lugar do que seja crença espiritual (Netuno). Urge arrumar o caos das humanas cabeças.