Com ou sem águas de março, a estação do verão, ao sul da Terra, se despede na próxima quinta-feira (20), às 6h03min. Neste exato instante se iniciam o outono e um novo ano astrológico, com a entrada do Sol no signo de Áries. É o “marco zero” do zodíaco, o chamado Equinócio de Áries, ponto de arrancada da renovação do contínuo ciclo da vida. A cada ano, os astrólogos costumam tomar o céu desse momento cósmico como indicador simbólico da qualidade do ano que ali começa.
Essa técnica é muito usada na chamada astrologia mundial, que sonda as tendências para países. Como o céu geral do instante do Equinócio de Áries é o mesmo para toda a Terra, calcula-se sua projeção para o horizonte da capital de cada país e, assim, tem-se um mapa astrológico mais específico. Para Brasília — e o Brasil, portanto —, tal mapa tem o signo de Peixes como ascendente, com os planetas Saturno e Netuno também ali no horizonte leste.
Esses dois astros, ainda no aquoso último signo zodiacal, estão se preparando para ingressar no fogoso Áries. Ou seja, vão logo chegar também ao energético ponto de início de ciclos. Netuno entra em Áries dia 30 de março; Saturno, em 25 de maio. Ficam alinhados por ali, à porta do primeiro signo, de junho a outubro, quando terão retornado a Peixes, para somente ingressarem de vez em Áries, conjuntos, em fevereiro de 2026.
Traduzindo: o próprio movimento dos dois planetas lentos que formarão a conjunção mais importante deste ano indica avanço e recuo, em instável clima de transição entre o signo que termina e o que começa o zodíaco. E Peixes no ascendente do mapa do ano novo confirma isso. Antes de algo novo realmente se manifestar, há que se lidar com as águas confusas do passado. Feliz ano velho? Adeus ano novo? Solavancos entre o acelerador e a marcha ré?
Pela natureza antagônica dos princípios arquetípicos associados a Saturno e Netuno — o primeiro rege a forma, os limites e a realidade; o segundo, a dissolução, a imaginação e as utopias —, esse encontro dos dois no limiar do zodíaco oferece potencial para grandes mudanças em termos coletivos. Com muitos conflitos e confusões, é claro, ainda mais pela citada situação de limiar iniciador.
No mapa do Brasil nação (aquele traçado para o 7 de setembro de 1822), a configuração principal do novo ano astrológico recai sobre o eixo ligado aos recursos e à economia em geral. E ativa o Plutão do mapa natal, aquele que confere um certo DNA de plutocracia ao país, a partir do qual os antigos poderes dos mais ricos sempre governam e resistem a mudanças. Com mais o aspecto tenso que Júpiter, regente das leis, pronto para entrar em Câncer em junho, fará com o turbinado ponto zero de Áries, temos um contexto astrológico bastante acalorado em 2025.
Como aponta em livro a astróloga Liz Greene, os aspectos entre Saturno e Netuno se relacionam aos próprios partidos políticos, sejam de direita ou de esquerda, cada qual se vendo como solução ideal e projetando no opositor os inimigos globais. Imagine a polarização natural que essa configuração já traz incidindo no belicoso signo de Áries! Para a autora, a resolução desse embate passa pelo reconhecimento das partes envolvidas de que a contradição já existe dentro de cada uma. Em tempos extremistas, serão capazes desse reconhecimento?
Outros autores do moderno cânone astrológico apostam mais positivamente na junção de Saturno a Netuno, como esforço estruturador (Saturno) de utopias sociais (Netuno). Essa mesma conjunção planetária estava no céu de 1917 e no do final dos anos 1980, coincidindo, respectivamente, com a formação e a dissolução da União Soviética.
À luz de tantas experiências históricas boas ou ruins de sistemas de governo, e de urgentes necessidades globais — ambientais e sociais —, tomara as forças de mudanças possam conciliar o bom senso de Saturno com o sonho humanista de Netuno.