Antes que o Sol se despeça de Libra, reconto uma parábola que li certa vez e que logo associei ao signo da balança. É a história de um rei que, depois de um período turbulento, de enfrentamentos internos entre a população, comemorou a chegada da paz lançando um concurso com esse tema aos artistas plásticos do reino. De toda parte chegaram telas lindamente pintadas, em que a paz se irradiava nas imagens. Eram cenas bucólicas ou ternas, como um campo florido sob um céu azul; uma pomba branca bebendo num regato tranquilo; uma família rindo, feliz, na mesa de jantar; amigos abraçados com expressão amorosa; uma criança com um cachorro no colo, e muito mais.
O rei fez questão de ele mesmo escolher o quadro que melhor retratasse a paz. Por isso, gastava horas examinando cada tela. A escolha parecia dificílima, diante de imagens tão semelhantes no significado. Até que os olhos do rei foram fisgados por um quadro diferente dos demais até nas cores usadas. Tons de vermelho vivo, cinza e preto se destacavam no cenário de uma tempestade violenta entre montanhas pontiagudas. Chuva torrencial e raios borravam o vale estreito entre os paredões rochosos. O rei se espantou com o contexto agressivo da imagem. Seria uma provocação do artista?
Foi aí que ele percebeu um detalhe luminoso num canto do quadro: numa brecha da rocha, havia uma andorinha no ninho, talvez chocando os ovos, indiferente ao borrascoso cenário externo. Aquela andorinha era um fragmento destoante do todo. Era um pequeno núcleo de paz profunda num entorno hostil. Era o que o rei esperava! A compreensão da paz não apenas como a materialização da harmonia plena, não como um ambiente sem tensões e desavenças, mas como uma construção interior e superior do ser. Aquela andorinha falava de paz no coração, de calma e prudência, de espera e esperança. Já não havia dúvida de para qual artista iria o prêmio.
E aqui e agora, o signo de Libra vai terminando, reforçando o exercício da razão. Sempre vamos poder escolher entre potencializar a tempestade ou cultivar a paz.