
Desde o início do ano até o dia 12 de abril, Porto Alegre registrou cerca de 4,1 mil casos de dengue, o que representa 49,5% do número de casos do mesmo período em 2024. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até a segunda semana de abril no ano passado, foram contabilizados mais de 8,3 mil casos da doença.
O infectologista e diretor técnico do Hospital São Lucas da PUCRS, Fabiano Ramos, atribui a diminuição de casos quase pela metade à sazonalidade da dengue. Segundo o médico, o vírus costuma seguir ciclos de três anos.
O ano passado marcou recorde de casos e, portanto, mais pessoas desenvolveram imunidade contra a doença. Sendo assim, um aumento de notificações não era esperado para 2025. No entanto, Ramos explica que, para 2026, a expectativa é de maior proporção de casos graves.
— No (ano) que vem, começa a ter a possibilidade de um aumento maior do número de casos. Mais do que isso, pacientes graves, porque a doença grave geralmente acaba acontecendo no segundo episódio de dengue — o infectologista explica.
Essa é a primeira vez que Porto Alegre registrou três dos quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2 e DENV-3), fator que aumenta o risco de letalidade. Até 2024, a cidade tinha casos de dois tipos e, no ano anterior, somente um.
— Quem teve infecção pelo tipo 1 não vai ter de novo pelo tipo 1, vai ter pelo tipo 2 ou pelo tipo 3. Quando começa a circular um outro tipo de vírus, aumenta a chance de doença e aumenta a chance de doença grave.
O médico explica que, quando se contrai um tipo de dengue, é comum que se produza imunidade cruzada contra os outros tipos por um período aproximado de um ano. Após isso, a imunidade contra o tipo já contraído permanece, mas no caso de contágio de outro sorotipo, a tendência é de um quadro grave — seja por dengue hemorrágica ou pela descompensação de doenças crônicas pré-existentes.
Ramos aponta que, no longo prazo, o cenário deve ser amenizado pela vacinação, atualmente destinada a crianças de 10 a 14 anos no RS.
Para o infectologista, o comportamento epidemiológico da doença depende de diversos fatores, como a vacinação, ações de prevenção, níveis de infestação e diagnóstico adequado. E as mudanças climáticas podem impactar na multiplicação do mosquito.
— A gente tinha a possibilidade de que a água parada depois da enchente que a gente teve pudesse criar focos pro mosquito, e a gente poderia ter um número até crescente de casos. Felizmente isso não está acontecendo — o médico analisa.
Neste ano, segundo a SMS, a região mais afetada de Porto Alegre é o Eixo Baltazar, na zona norte da cidade, que engloba os bairros Costa e Silva, Jardim Itu, Jardim Leopoldina, Parque Santa Fé, Passo das Pedras e Rubem Berta. A área concentra aproximadamente 1,2 mil casos, um terço das confirmações.
Em 2025, duas pessoas morreram em Porto Alegre em decorrência do vírus – duas mulheres, de 59 e 72 anos, ambas com comorbidades. No RS, foram cinco óbitos registrados neste ano.
Produção: Fernanda Axelrud