Tenho observado algo inédito ultimamente: as pessoas sentem certo orgulho em dizer que estão cansadas, estressadas. É uma espécie de credencial, traduzida por esta frase: “Estou dando o máximo de mim, admire meu esforço.”
O excesso virou sinônimo de exigência para se qualificar. É uma atitude perigosa, pois ultrapassamos os limites do razoável — medida certa para encontrar o equilíbrio. Muitos acreditam, enganosamente, se tornarem bem-vistos por suas chefias ao apresentar sinais evidentes de sobrecarga. No entanto, estudos recentes mostram que a percepção em relação a eles é dúbia.
O entorno acaba sendo afetado e uma espécie de efeito dominó envolve a todos. É um sintoma típico da época atual. Ele nasceu na Revolução Industrial e adquire ares de epidemia agora, quando a eficiência se tornou uma identidade adicional que define a nossa vida. Na verdade, essa overdose se estende para diversas áreas.
Envaidecer-se de sintomas patológicos é um erro a ser combatido, pois endossaremos as estatísticas de pessoas destroçadas emocional e fisicamente por aderirem a um modelo que os enfraquece.
Sim, as demandas se multiplicam, mas isso não deveria nos impulsionar a adotar o que só traz prejuízo. A exaustão provoca uma série de problemas pouco analisados até recentemente. Por trás dessa postura existem dois fatores a se considerar: a ambição e o medo de sermos superados por quem adota esse modo de agir.
As cobranças por eficácia se mostram maiores hoje. Sem contar o fato de o erro ter sido expulso da realidade cotidiana. Os entusiastas da autoajuda reforçam essa ideia: você pode, você consegue. Deixam de levar em consideração as peculiaridades de cada um, pois as minhas habilidades são diferentes da suas.
Acrescente-se a isso estarmos sendo constantemente avaliados, alimentando um processo francamente nocivo: o da comparação. Se fulano faz, vou seguir o seu exemplo, para evitar o risco de ser substituído, descartado.
É possível resistir a esse apelo valendo-nos de uma atitude simples, porém raramente posta em prática: a capacidade de dizer não. Acompanhada da pergunta: eu preciso tanto da aprovação dos outros?
É desafiador ir contra a corrente, embora necessário diante de um imaginário que transforma a exaustão em um valor. Estamos cedendo o nosso tempo para o benefício de uma pequena parcela que comanda o mercado. E, sem perceber, transferimos esse ideal para múltiplas áreas do dia a dia. Não somos um compartimento estanque onde se guarda em cada gaveta sentimentos como raiva, esgotamento, alegria, esperança, tédio. Tudo se mistura.
Cuidado para não validar o adoecimento do corpo e da mente, transformando em rotina um pesadelo que poderá nos conduzir à morte.
Precisamos revisar tais conceitos, rebelando-nos contra este itinerário destrutivo. O comedimento sempre é a melhor opção. Caso contrário, perderemos a nós mesmos, mesmo acreditando ganhar o mundo.