Eu gosto do novo. Sem ele, toda e qualquer noção de progresso e mudança simplesmente inexiste. É fascinante o desafio de estar diante de algo que desconhecemos ou que temos pouco domínio. Modelos distintos de comportamento acabam se impondo, e isso quase sempre significa uma evolução nos costumes e uma rasteira nos preconceitos. Porém, acho que estamos exagerando ao entronizar essa verdade como o único caminho a ser seguido. Sejamos modernos, mas sem tanto extremismo. Conceder espaço e valorizar o que pertence à tradição, o que foi se sedimentando pelo uso e pela repetição, pode se revelar uma maneira saudável de ir assimilando aquilo que realmente importa. O que determinou minha maneira de pensar e sentir está estritamente ligado ao que aprendi com pai, mãe e tias – as pessoas com as quais convivi ao longo de quase cinco décadas. Sou um eterno devedor a eles e desconsiderar isso é trair as ligações que nos unem aos nossos antepassados.
Como ignorar tudo o que me alimentou na infância e na adolescência? É ali que encontro múltiplos elementos responsáveis pela estruturação de um pensamento próprio, moldando a forma como vejo o mundo. Impuseram limites que me levaram a compreender a necessidade de um olhar compassivo sobre tudo o que me cerca; da diversidade que é, em última instância, a mais rica chance que temos de sair de nossa estreita prisão. Com o passar dos anos vamos colorindo essa visão com um olhar mais pessoal, mesclando-o com o que nos nutriu quando ainda éramos incapazes de ler a realidade por conta própria. Digo isso porque penso estar havendo um excesso patológico da glorificação do que é inédito, do que apresenta frescor e brilho, como se fosse um defeito estar coberto com a pátina dos dias. Um não anula o outro, mas o enriquece.
Mesmo o que é bom, dizem-nos, precisa evitar de ser repetido, pois corremos o risco de estar perdendo algo melhor. Somos induzidos a caçar o que cada estação oferece. E depois jogar fora. A vida como uma eterna possibilidade parece ser o mantra acolhido pela esmagadora maioria. Pois a mim soa mais saudável abraçar regularmente o conhecido, o que nos sustenta ao longo do tempo. Tenho muitos amigos bem mais velhos do que eu. Chamo-os de mestres informais. Evito reduzir nossas discussões só à filosofia ou à arte. Procuro ouvi-los com atenção, internalizando lições que nasceram da experiência e do erro. Autoridade e hierarquia costumam ser faróis que nos impedem de seguir às cegas, observando com atenção quem já palmilhou um caminho que poderá ser nosso doravante.
Tento acolher tudo o que os deuses ou o acaso me reservam. Mas também aprendi a reverenciar. Não cedo à tentação das modas efêmeras. Gosto do que está estabelecido. E entrego-me aos desafios. Por garantia, escolho os dois.