Pode-se ler, em uma das divagações poéticas da escritora Nélida Piñon, estas frases: "Falta-me vocação para ser triste. Tenho riso fácil. No entanto, sem aparentar, tenho feroz vocação para a solidão, que é o lugar metafísico onde melhor me encontro." Se existisse um epitáfio para a vida, certamente este seria o meu. Todas as vezes em que perdi, chorei, senti-me abandonado, tinha esse pensamento recorrente: preciso sair logo dessa escuridão. Posso aceitar a dor como um componente natural do ser humano, mas jamais a exultarei, pois ela nos desloca dos centros vitais da própria existência. É como se eu fosse empurrado para fora, em busca do sol. Nesta breve passagem por aqui, sei que o maior compromisso é espalhar a alegria, que reverencio como uma deusa pagã. Quem, em algum momento, não percebeu a alma fraturada, as forças lhe faltarem e uma vontade de desistir? No entanto, é dever de cada um domar esses sentimentos, dando-lhe a fisionomia do que é passageiro. Nenhuma felicidade deve ser clandestina, pois nossos propósitos devem ser direcionados para as manhãs límpidas, não para os ocasos, o breu, o que agoniza. Por mais que nos sintamos desamparados, não devemos nos deixar humilhar pela desistência.
Opinião
Gilmar Marcílio: em busca do sol
Quem, em algum momento, não percebeu a alma fraturada, as forças lhe faltarem e uma vontade de desistir?
Gilmar Marcílio
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