Conforme a época e a cultura vigente, os povos definem o que é aceito ou rechaçado em assuntos considerados tabu. O sexo, naturalmente, sempre foi um deles. Salvo em raras sociedades, quando a livre expressão era permitida e praticada, nossas concepções foram comprometidas pelo olhar enviesado das religiões e da moral. Elas atuaram como inibidores que não permitem a vivência plena do que rege a sensualidade. A filosofia e a psicologia tentaram contribuir para a diluição de normas tão estanques. Mas, a despeito de como tudo foi sendo tratado ao longo dos tempos, inevitavelmente acabou se tornando um centro irradiador de poder. Vale enfatizar que aqui não estamos falando de algo que pertence ao racional, à lógica do pensamento. Assim, o encontro físico, o êxtase que ele provoca, acaba resvalando para a dominação. Um subjugando o outro, em busca da ocupação de um espaço na geografia emocional alheia. Lembremos da emblemática peça de teatro Lisístrata, do grego Aristófanes. O enredo apresenta a luta das mulheres para dar fim a uma guerra que se arrastava há anos, afastando seus maridos de casa. Sua arma: não ir mais para a cama com eles. Vinte e cinco séculos desde então e parece que nem tanta coisa mudou. Além disso, mesmo sabendo-nos donos do nosso corpo, comumente acabamos por obedecer aos seus ditames. Ainda mais em quem desperta em nós os apetites que o roçar da pele evoca.
Opinião
Gilmar Marcílio: sexo é poder?
Somos vítimas e, ao mesmo tempo, agentes dessa poderosa força que emana do embate sexual
Gilmar Marcílio
Enviar email