Não sei se isso acontece também com você, mas poucas situações me desestabilizam mais emocionalmente do que, depois de expressar uma opinião, a pessoa com quem estou falando responde dizendo: "Sim, mas..." Se isso é ocasional, tudo bem, pior é quando se torna um traço recorrente da personalidade. Mal se consegue emitir um juízo e já encontramos discordância, mesmo antes do raciocínio ter sido completado. Falo desses seres que acreditam que suas manifestações são fundamentais para o bom andamento do mundo. E que são sempre superiores as nossas. Nem é preciso levantar assuntos polêmicos. O banal também desperta a compulsão em se contrapor ao que o outro diz. Confesso que atitudes dessa natureza testam meu limite de resistência. Que, bem o sei, não costuma ser muito elástico. É tão bom estar ao lado de alguém que sabe relaxar e não fica de prontidão, disparando compulsivamente argumentos que lhe parecem mais eficazes. O dom de ouvir com acuidade constitui-se numa virtude capital para o bom andamento das relações humanas. Sair de si mesmo e ir ao encontro de quem está a nossa frente constitui-se num exercício de bondade e compaixão. Entender que o diálogo, mais do que uma batalha, é uma entrega, a possibilidade de ultrapassar o nosso limitadíssimo eu e compreender o que significa a alteridade.
Opinião
Gilmar Marcílio: sim, mas...
"O diálogo, mais do que uma batalha, é uma entrega."
Gilmar Marcílio
Enviar email