O cristianismo nos legou dez mandamentos. Alguns deles, presos aos códigos morais da época em que foram escritos, ecoam de forma distante em nossas vidas. São referências pálidas, mas mesmo assim permanecem no imaginário. Em algum momento, cada um de nós sentiu-se tentado a acrescentar um ou mais normas de comportamento que, parece-nos, poderiam ajudar a nos transformar em seres humanos melhores. Sem falar no fato de que permitiriam uma convivência mais pacífica com nossos semelhantes. Não creio que precisamos, necessariamente, praticar algum tipo de religião para sermos bons e justos. A ética e a filosofia, quando postas em ação com verdade e comprometimento, também se tornam excelentes guias para burilar a alma. Mas os que seguem o roteiro ditado pela fé são tomados, com maior ou menor intensidade, pelo desejo de acrescentar novos ditames, verdades que o período em que estão imersos parece impor com premência. Mesmo não fazendo parte desse grupo, mas respeitando e até invejando quem se deixa consumir por alguma disciplina espiritual, pensei em algo que parece estar tão ausente nestes dias em que a polarização toma conta de quase tudo. E a intolerância batiza com o carimbo da certeza qualquer opinião, por mais leviana que seja.
Embora não sendo apóstolo de nenhuma seita, escreveria numa nova tábua esse princípio fundamental para podermos nos relacionar com mais serenidade: “Não revidarás!” A poucos é dada essa grandeza, pois vemos no dia a dia como nos sentimos reconfortados quando somos artífices de alguma vingança. Acreditamos, enganosamente, ter sido feita justiça. Penso haver muito mais nobreza quando, vítimas de injúria, nos propomos a ponderar sobre o ocorrido, tentando a difícil arte de nos colocar no lugar do agressor. Recentemente passei por uma situação em que precisei testar esse princípio. Recorri à meditação e às palavras de meus mestres, em busca de consolo e sabedoria necessária para encontrar contenção e bom senso.
Não agir por impulso é o que se deve fazer por primeiro. Ponderar, pensando que, mesmo inadvertidamente, podemos também magoar ou ofender. Tudo depende do ponto de vista. O acontecido não foi grave, mas me perturbou emocionalmente, roubando-me preciosas horas. O saldo positivo também foi considerável. Tentei ser prudente, contendo qualquer extremismo verbal. As pessoas parecem permanentemente armadas, e uma frase dita num contexto que as desagrada pode gerar consequências nefastas. É preciso cultivar a calma, pois é o melhor patrimônio advindo da racionalidade.
Troquei o rancor pela compaixão. E me senti apaziguado. Não destinarei um minuto sequer a maldizer ou vociferar contra, querendo o mal a quem o mal fez. É o silêncio que nos conduz à vitória. Sem testemunhas, bastando que somente nós a percebamos. O espelho nos devolverá uma imagem da qual nos orgulharemos.