Recordo-me de, em minha juventude, observar familiares mais velhos e pensar: quando chegar nessa idade, provavelmente serei diferente deles. Desejamos ser diversos de nossos antepassados. Porém, quando entramos na quarta ou quinta década de nossa vida, vamos percebendo que o roteiro percorrido guarda grandes semelhanças. Distinguimo-nos profissionalmente deles; temos filhos ou não; fazemos algumas interferências estéticas ou aceitamos as mudanças do rosto e do corpo. Mas há algo muito sutil, nem sempre detectado, que nos leva a repetir os modelos em que nos espelhamos desde a infância. Uma espécie de força invisível nos faz representar semelhantes papéis. Em suma, não esperemos grandes originalidades em relação aos que nos precederam. O que no começo pode causar algum desconforto, com o passar dos anos se revela apaziguador. Aprendemos a relaxar e a observar com certa curiosidade o que vai se definindo. Aqui e ali, sinais evidentes da complexa teia da hereditariedade se tornam manifestos. E acabamos por nos entregar às evidências: a natureza acaba vencendo a cultura e os hábitos. E seguimos mais tranquilos, aproveitando o que nos é reservado.
Opinião
Gilmar Marcílio: Como nossos pais
É claro que os múltiplos caminhos palmilhados nos premiam com alguma liberdade em nosso mundo pessoal
Gilmar Marcílio
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