A ignorância fabrica certezas. A insegurança, vaidades. Só pode ser isto, dada a insistência com que os medíocres se autoelogiam no domínio público ou em âmbito privado. Nunca vi alguém de considerável envergadura promover-se à custa de seu talento. Ele é entregue ao mundo com discrição, sem grandes alardes. Que os outros o descubram, pois não há razão alguma para transformá-lo num espetáculo. Mas é só o que se tem visto por aí. Atores em início de carreira (mas com rosto bonitinho) sentem-se aptos a representar Hamlet ou Macbeth. Youtubers recém-saídos da infância (mas idolatrados por hordas de fãs midiáticos) gritam aos quatro ventos: Eu sou o máximo! Vontade de dizer-lhes: Talvez, mas vamos confirmar isso daqui a vinte anos, pode ser?
Somos pequenos e esquecíveis, mas é preciso de muito tempo para nos darmos conta disso. Começamos acreditando que fomos bafejados pelos deuses. É só viralizar nas redes sociais e pronto: lá vamos nós desfilar nosso ego para todos admirarem. Exercício para quem se acha "o bom": Ler os clássicos, ver Lawrence Olivier representando Shakespeare. Visitar um museu e sentar-se diante de uma obra de Caravaggio ou Rubens. Depois disso? Se tiver um mínimo de senso crítico, vai hibernar em silêncio, por algumas semanas. E depois se perguntar: algum dia eu conseguirei ser mais do que uma sombra, comparado a esses grandes?
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Ando meio enfastiado de ver tanta autopromoção. Adolescentes pensando que quem não compactua com sua visão é velho e babaca. O novo, sempre o novo. Uma passada de olhos e tudo está compreendido, assimilado. Mas a inteligência que se vê por aí é focada, destinada a um único objetivo. Cadê o homem renascentista, que se interessava por tudo e assimilava todas as linguagens? Agora basta dominar a mais corriqueira das tecnologias e... voilá! Sou um gênio. É uma conversa meio ranzinza, mas desconfio que muitos de nós, caminhando para a "melhor idade", se sentem autorizados a isso.
Aos que querem nos tornar invisíveis, talvez seja bom pensar que a experiência continua sendo um farol. A situação ideal parece ser a união do frescor e o arrojamento da juventude com a prudência da maturidade. Não precisamos nos confrontar como inimigos. Apenas respeitar. Meu amigo de quinze, dezoito anos: você me ensina a recuperar a audácia e eu te ensino a ser prudente. A tua existência não exclui a minha.
Você se acha ótimo? Parabéns! Por enquanto, diga isso apenas para si mesmo, no seu quarto, de luz apagada. Não me envergonhe. Não se envergonhe. Seja modesto. É uma virtude capital.