Não é preciso agendar um dia e horário, nem entrar na fila, muito menos contar com a sorte. Um dia, depois de tanto ler, pesquisar, conversar com pessoas sobre, perceber os benefícios, você decide parar de comer carne. Não gosto de rótulos, mas repensar as atitudes é fundamental.
É almoço de domingo e as pessoas ainda se impressionam que não vai ter carne para comer. Complicado falar de carne, ainda mais num país que cultua a carne, como se domingo não fosse domingo sem um churrasco. Somos o maior exportador de carne e um dos maiores consumidores desta iguaria que saiu dos pastos e invadiu a floresta. Quando você se torna vegetariano ou vegano numa família que faz carne todo domingo, é como se você se tornasse um pária. E muitos dirão, mas a carne é fundamental para o desenvolvimento do cérebro humano, será mesmo? Se você ler qualquer livro sério sobre a raça humana vai ficar estarrecido quando se deparar diante de algumas verdades. Uma delas é que, buenas, as coisas não são tão assim como se acredita com relação ao consumo de carne. Esse apetite particular e depois esse desejo da maioria das pessoas constrói o caminho de uma indústria tão turva quanto poderosa que nos arrasta pela coleira.
Que um bom prato de carne seduz a qualquer um, disso não há dúvida. O número de açougues espalhados pelas cidades retratam isso. Imagine nosso ancestral humano, como ficaria feliz de saber que não precisa caçar mais nada, em alguns lugares nem assar precisa, basta escolher, pagar e levar para a casa aquele pedaço suculento de vaca ou porco. Parece bastante tranquilizador.
Hoje comemos carne três vezes mais do que há 50 anos. Na época em que meus avós moravam na colônia o consumo de carne era mais ético. O animal tinha tempo de crescer, vivia livre e era abatido quando a precisão para aquele período do ano se fazia necessário. Sim, era um modo de viver e se vivia de acordo. Mas agora consumimos carne à custa de animais e um planeta que já não aguenta mais. Os campos de milho e soja transgênicos alimentam animais aprisionados para a engorda e crescimento rápido. As pesquisas apontam que para cada 100 calorias de comida que uma vaca recebe, rende apenas 17 calorias de carne, ou seja, são necessários 15 mil litros de água para obter um quilo de bife, o que consome 23 por cento das reservas de água doce de que dispomos. O único jeito de conseguir mais terra é queimando a biodiversidade, fazendo desaparecer os ecossistemas. Veja bem, é por isso que a Amazônia queima e se você se preocupa com o meio ambiente deveria rever seu consumo de carne, pois senão o discurso torna-se, no mínimo, contraditório.
Quando as pessoas me questionam sobre o não comer carne costumo dizer que não parei porque não gosto, pelo contrário, fui criada dentro desta cultura e ainda salivo quando sinto o cheiro da carne sendo assada, mas parei de comer por questões de ética e de saúde. Parar de comer carne, para além das ideologias, é uma questão de respeito: com o planeta, com os animais, mas acima de tudo, conosco mesmos.