Começo este breve(íssimo) texto lembrando de um poeminha simpático da Ruth Rocha que diz assim: “as coisas que a gente fala, saem da boca da gente e vão voando, voando, correndo sempre para frente. Entrando pelos ouvidos de quem estiver presente. Quando a pessoa presente é pessoa distraída, não presta muita atenção. Então as palavras entram e saem pelo outro lado, sem fazer complicação”. O poema é infantil e cheio de ensinamentos para os adultos. Quantas vezes deveríamos não ter dado ouvidos para a fala de alguém, que disse algo que não fazia sentido, que era para nos atingir, machucar? Mas temos uma mania de gente grande de sempre ter de responder aquilo que o outro nos diz. Como se se não responder vai demandar alguma falha nossa. Imagina, ficar sem responder ao que o outro nos diz, ainda mais quando ele não tinha o direito de nos ter dito o que disse. Às vezes penso que damos importância demais para coisas de menos e importância de menos para aquilo que realmente importa.
Rubem Alves, saudoso e querido, dizia que precisávamos aprender a ouvir, mais do que a falar. Já falamos demais. Estamos cheios de opiniões, de achismos. Para tudo sempre temos de dizer algo. Ele propunha um curso de escutatória. Isso se parece com o poema da Ruth, citado logo acima, afinal que tal deixar algumas coisas entrarem por um ouvido, cruzarem nossa cabeça de lado a lado, e saírem pelo outro? Assim como os pássaros cruzam o céu ou como as baleias que migram do sul para o norte. Fazer ouvidos de caramujo cujas palavras entram num espiral quase infinito e tão longo e lento que até perdem o sentido. Mas por que não conseguimos? Por que sempre temos de devolver a palavra jogada com uma pedrada-palavra? Por que temos de ter a razão sempre? Por que temos de ser o último a falar? Que necessidade é essa de ser o mais importante?
Freud vai falar do narcisismo das pequenas diferenças. Eu gosto mais de Manoel de Barros, que diz o mesmo que Freud, mas de um jeito tão mais dito: tem mais presença em mim o que me falta. E o que me falta? O que te falta? O que nos falta que faz com que imaginemos que uma palavra devolvida dará conta daquilo que eu nem mesmo sei dizer? O que nos faz tão distintos que precisemos apontar nossas diferenças?
Depois o estômago dói. Dói a cabeça. O peito, a coluna, a garganta, o corpo dói. Nossos sentimentos e palavras sangram pelo mesmo buraco, nosso corpo. Ao invés de refletirmos sobre nossas emoções, entender o que nos chateou na fala do outro e refletir sobre o que se passou ali, somos levados a fazer algo para nos aliviar. Às vezes comemos demais, ou fumamos, ou bebemos demais. Às vezes brigamos. Reagimos impulsivamente. Pegamos fogo e queimamos tudo ao redor, inclusive nós mesmos.
Encerro citando Fernando Pessoa, em seu heterônimo Álvaro de Campos, pois como ele eu também “nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo” e como o poeta, tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas.