Sonhei, sonhou, sonhamos com um outro mundo, com um que nos pudesse acolher assim como somos. Sonhamos as tábuas, as pedras, os tijolos, as flores, o barro, a tinta, o papel. Sonhamos as cores, o fogo, os risos, as conversas, o processo criativo. Sonhamos resistindo neste ano de pandemia, de distanciamentos, de isolamentos, de silêncios impostos. Aproveitamos para sonhar ainda mais, para mergulhar na vida, para se autoconhecer, para saber do que somos feitas. Aproveitamos o tempo para fazer panelas, desenhar flores, aprender a cozinhar com aquilo que a natureza nos oferece no quintal e jardim da casa. Tudo por aqui cresceu. As lavandas encobriram o caminho de entrada, o pé de Cora Coralina está maior que a casa, o Baudelaire perfuma quase a rua toda, e as glicínias formaram um túnel de muitos metros. Como praticamente não recebemos ninguém durante este ano, a natureza aproveitou para ocupar os espaços. Estamos mais verdes do que nunca, oxalá assim continue.
Opinião
Adriana Antunes: entre as folhas e os dias 2021
Que a palavra louca, polêmica e poética rompa a retina fina dessa sociedade cega e materialista e deixe a realidade e o imaginário vazarem
Adriana Antunes
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