Segunda-feira foi dia dos mortos. Um dia que oficializa a morte do corpo físico. Um dia no calendário para lembrar que somos finitos. Habitamos esse corpo momentaneamente. Talvez por alguns anos, mas não para sempre (ainda bem). Dar-se conta disso me parece fundamental para tentarmos viver o possível dentro deste espaço-tempo. Cruzar a vida de modo feliz. Talvez dar-se conta disso também pudesse ajudar a sermos o que somos e não o que devemos ser, afinal, amanhã podemos não existir mais. No entanto, carregamos uma culpa imensa por não termos o corpo perfeito, por não correspondermos aquilo que o outro espera de nós, por não seguirmos o padrão esperado e dessa dívida impagável, herdamos a angústia de não nos aceitarmos. Apagamos a dádiva da diferença, negamos o que nos subtrai e inventariamos nossa mudança. Nos sujeitamos às vontades alheias, calamos nossos sentimentos, subjugamos nossos desejos, acreditamos na verdade do outro desvalidando a nossa. Adentramos os consultórios doentes de amor e de raiva.
Opinião
Adriana Antunes: sobre o Dia de Finados
O Dia de Finados é uma espécie de encruzilhada afirmativa do que é o devir
Adriana Antunes
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