Vivemos uma globalização perversa. Na base uma espécie de tirania que se subdivide em duas frentes: uma é a supervalorização do dinheiro do que ele pode comprar, inclusive poder, status, privilégios, reconhecimento; do outro, a informação, mas não a informação que forma, que ajuda a reflexão, mas sim uma informação deturpada, persuasiva no sentido cruel da palavra e deformadora do conhecimento. Vivemos dentro disso, nos digladiando entre essa corrida desenfreada pelo capital e consumindo o tempo todo esse material midiático que se confunde com informação. Ambos alteram nosso contexto social e pessoal e podem influenciar no caráter das pessoas. Sim, somos influenciados a todo momento. Quanto do que fazemos, fazemos por que fomos nós que decidimos fazer e quanto do que fazemos, fazemos por que fomos persuadidos e manipulados?
Assim, acordamos todos os dias, todas as manhãs, por anos seguidos e sem nos apercebemos que a grande engrenagem do mercado nos exige um comportamento competitivo. E competimos na produção e no consumo. Em algum momento, uma brecha se abre, pois se o corpo não adoecer, a mente ou o psíquico darão sinais de que algo está fora do eixo.
E aí, vamos nos dando conta do tamanho da violência estrutural em que estamos inseridos, percebemos que estamos vivendo um tempo em que há uma espécie de confusão de espírito, começamos a reconhecer o aumento da desigualdade social, o caos causado pelo desamparado e finalmente, sentimos a sensação horrível de nos descobrirmos abandonados. Se olharmos mais de perto, percebemos que há uma diminuição da responsabilidade do Estado, uma ampliação do papel político do privado, uma fragmentação da percepção sobre o contexto social e histórico e a confirmação do crescente discurso único. E desse modo, assim como a informação se deturpa, assim como o caráter se altera, vamos nós nos deformando também.
Dentro desse contexto quem sai ganhando é o dinheiro, ou melhor, o mercado financeiro. A supervalorização do tal vil metal torna-se o centro do mundo e de nossas vidas. E com o dinheiro vem a avareza, a ambição, o fetiche. Nosso tempo passa a custar, afinal, tempo é dinheiro. Essa é uma tirania que alcança todos. A ideia de que ninguém é insubstituível vem daí. Uma globalização perversa que nos transforma em número. Mas a culpa não é de um ou de outro governo, um ou outro sistema. Falemos de responsabilidade, o quanto somos responsáveis pela construção e manutenção desse sistema cruel que em algum momento irá nos mastigar e trocar por outro que seja mais jovem ou melhor?