Queremos conversar. Tirar um tempo para olhar olho no olho, passar a cuia de chimarrão de mão em mão, refletir sobre a vida, a política, as frustrações e assim aliviar um pouco da angústia que todos sentimos. Minha mãe costuma falar que nos tempos de antes as pessoas se reuniam para fazer o filó.
Uma vez por mês escolhiam a casa de quem seria o anfitrião e lá se iam todos com seus quitutes feitos especialmente para o momento, cheios de palavras desejosas de serem ditas e ouvidos ávidos de histórias. Era um senso de comunidade que unia as pessoas. Eu nunca fui num filó, não sei que gosto tem, mas gosto muito de quando posso sentar para conversar, olhando olho no olho. Faço isso sempre que posso, seja em casa, em sala de aula, com amigos, por aqui, na escritura semanal desta coluna (embora aqui os olhos do leitor sejam fruto da minha imaginação).
As tecnologias, que sempre serão muito bem vindas, trouxeram também uma falsa aproximação. Parece que estar conectado supre nossos desejos de companhia, mas não é verdade. Ainda somos seres que necessitam do encontro real com o outro. É nessa troca de diálogos que aprendemos nosso tempo de ouvir, de prestar a atenção, de ler os gestos, os silêncios da fala. Ter um turno de fala e outro de escuta nos ensina a lidar com a frustração e a sermos mais generosos conosco mesmos e com o outro. A conversa constrói. É na troca que trocamos pontos de vistas.
Aprendemos com o outro e com nosso próprio pensamento, agora dito, sobre o limite de nossas crenças. Esbarramos em nossos preconceitos, nos damos conta de nossas raivas, angústias e solidão. Conversar ajuda a reorganizar nossos sentimentos, reforça o carinho e a amizade, estreita relações e aproxima os seres. Mas a conversa real e que nos alimenta não se dá em meio a uma festa, muito menos com muitas pessoas reunidas. Falo do encontro único que acontece entre duas, três ou quatro pessoas, no máximo, dispostas e abrir mão de seus tempos e afazeres para estar junto. Isso é raro, pois vivemos tempos em que não temos tempo para nada.
Também não queremos encontros assim, porque em encontros assim teremos de ser nós mesmos, sem máscaras, sem selfies e, nesse ínterim, expor nossas fragilidades e medos. Temos medo do julgamento do outro. Vivemos numa sociedade em que a superficialidade parece ser o motor da vida. Sofremos por conta disso. Sofremos de desamparo. É urgente que reaprendamos a conversar, longe das redes sociais, perto do fogão à lenha e dispostos a suportar nossa incompletude e a incompletude do outro. Sempre há duas ou três pessoas, dentre as muitas, em que podemos ser um e ser aceitos.