Eu gosto de fazer pão em casa. Nem sempre consigo, nem sempre quero. Mas há dias em que me volto para a cozinha em busca de poesia, aromas, lembranças. Há dias em que o ato de preparar o alimento é uma forma de reconexão com a vida e com os outros. Me alimento ao alimentar aqueles que amo. Não há espaço na casa que seja mais repleto de memórias do que a cozinha. Ali as histórias de quem veio antes, os costumes, as tradições, os gostos, os temperos, os rituais se reatualizam. São receitas que sobreviveram ao tempo, aos desencontros, aos desenraizamentos geográficos, as migrações, as segregações sociais. É por meio da comida, dos hábitos que adquirimos na alimentação, que muitas vezes buscamos nossas identidades, reencontramos nossos antepassados queridos e recontamos suas histórias dentro das nossas. A comida quando invocada pelo amor e não usada como compensação para a ansiedade, conforta, acolhe, reduz o desamparo, preenche o vazio de um estômago entristecido e solitário.
Opinião
Adriana Antunes: pão e poesia
Não há espaço na casa que seja mais repleto de memórias do que a cozinha
Adriana Antunes
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