Produtores do norte gaúcho estão em alerta para a falta de chuva nas últimas semanas. Apesar de precipitações isoladas, o volume está abaixo do necessário, principalmente às plantações de soja e de milho, aponta a Emater regional de Passo Fundo.
Embora a situação ainda não seja considerada crítica, sem perdas significativas reportadas, o supervisor microrregional da Emater e responsável pela área de culturas na região, Oriberto Adami, aponta que a região está "no limite" diante do clima, com previsões pouco otimistas para os próximos dias.
— As chuvas isoladas ocorrem em diversas localidades e isso ajuda, mas não da forma como deveria. Nós estamos no limite e dependemos de chuva nos próximos dias para amenizar e não entrarmos numa situação de comprometimento da produtividade — explica.
No caso do milho, parte das plantações já estão em fase adiantada, em formação de grão, o que ajuda a evitar uma perda significativa. No entanto, nos locais em que a cultivar ainda está em fase de espigamento, a chuva e umidade são essenciais para um bom rendimento.
Outro cenário que preocupa é o da soja, uma vez que 90% da área cultivada da região é do grão. O especialista indica que ainda há um panorama de bom desenvolvimento em grande parte das lavouras, mas com necessidade urgente de chuva.
— Muitas (lavouras) entram agora em período de floração. É um momento crítico, todos torcem por chuva nos próximos dias. Se essa situação se prolongar, começa a comprometer a produtividade da cultura da soja. Janeiro e fevereiro são meses determinantes.
Produtores em alerta
Agricultor em uma propriedade de Não-Me-Toque, Emauel Nienow diz observar sinais da seca nas plantações de milho e soja, cultivados há mais de 40 anos na área da família.
— Essa lavoura (de soja) não pegou as últimas chuvas que deu na região, então tem que chover o quanto antes. A gente já observa perdas, vê plantas murchas, perdendo as folhas, e isso impacta na falta de produção. Se normalizar as chuvas, a perda é menor, mas existe — relata.
Já no cultivo do milho, a perspectiva é de utilizar a produção para cobrir custos de eventuais perdas. Isso porque, no caso da área dessa cultivar, foi possível aproveitar as chuvas isoladas das últimas semanas de dezembro. Além disso, o milho já está em fase de final de ciclo.
— Nessa área do milho a gente ainda conseguiu aproveitar a umidade, mas sabemos de agricultores próximos que estão numa situação crítica. Cada dia que passa é um momento crucial para a produção — acrescenta.
Noroeste já registra perdas
Municípios do noroeste gaúcho já contabilizam perdas causadas pela falta de chuva. Com estiagem que dura pelo menos 20 dias em alguns municípios, as lavouras de soja já passam a apresentar folhas murchas e de aspecto amarelado, o que indica queimadura pelo sol, além de rachaduras no solo.
Municípios como Ijuí, Santa Rosa, Entre Ijuís e a Fronteira Oeste estão entre as localidades afetadas. Segundo a Emater regional de Ijuí, ainda não é possível fazer uma estimativa concreta de prejuízos, mas eles já ocorrem de maneira localizada.
— A escassez hídrica já tem levado a registros de abortamento das flores e vagens, o que impacta diretamente no potencial produtivo lá no final de ciclo, na hora de colher. Estamos em uma situação que qualquer chuva que vier, é bem-vinda — afirma o gerente adjunto da instituição, Bergson dos Santos.
Governo do Estado pede atenção
Também na quinta-feira (9), o governo do Estado, por meio do secretário de Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, entregou ao ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, um ofício solicitando atenção do governo federal para os efeitos da estiagem.
No documento é destacada a necessidade de atenção urgente para a estiagem que deve afetar o RS em 2025. O secretário reforça a importância de medidas de apoio direto do MDA e da articulação com outros órgãos federais, buscando minimizar os impactos da seca sobre a agricultura familiar, especialmente nas regiões mais vulneráveis.