Por Juliana Brizola, advogada, mestre em ciências criminais e ex-deputada
A ditadura militar brasileira completou 61 anos em março, reavivando lembranças dolorosas para minha família. Enfrentamos tempos difíceis e traumáticos com o exílio de meu avô, Leonel Brizola. Porém, este ano, a data foi marcada por uma espécie de reparação histórica. Documentos secretos recentemente divulgados pelo governo dos EUA revelaram como a CIA monitorava Brizola. Entre mais de dois mil documentos relacionados à investigação do assassinato do presidente John Kennedy em 1963, soube-se que Cuba e China ofereceram apoio financeiro a Brizola durante a Campanha da Legalidade em 1961, quando ele era governador do RS. Brizola recusou a oferta, temendo que isso pudesse justificar uma intervenção em nosso país.
A Legalidade também chegou à minha família pelo meu tio-avô, o vice-presidente João Goulart (Jango). Durante o episódio, Brizola desempenhou um papel crucial ao impedir um golpe que buscava evitar a posse de Jango, após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Após dias de crise, Jango foi empossado. Como pano de fundo, naquele momento, a América Latina estava no meio da Guerra Fria, disputa entre os EUA e a União Soviética.
A verdade que os documentos da CIA agora confirmam é que ele sempre foi um democrata convicto e defensor da soberania nacional
Brizola foi alvo de perseguições e seus opositores tentaram desconstruir sua imagem por meio da disseminação de fake news — que já existiam à época, embora com menos velocidade e alcance do que hoje. Rotulado como comunista, terrorista e radical, a verdade que os documentos da CIA agora confirmam é que ele sempre foi um democrata convicto e defensor da soberania nacional. Brizola rechaçou tanto a ditadura quanto o comunismo. Para ele, o bem-estar do povo do Rio Grande e do Brasil estava acima de qualquer coisa.
Brizola foi firme na defesa da democracia e da soberania nacional. Mesmo sob pressão, sua integridade e compromisso com o povo nunca falharam. Que as revelações da CIA sirvam para nos lembrar do quão precioso é o valor que ele sempre defendeu: a liberdade. Brizola não foi apenas um político, mas um herói nacional. Seu legado viverá sempre nos corações dos brasileiros que ele tanto amou e protegeu.