Por Dom Jaime Cardeal Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
A Páscoa está relacionada àquela noite em que Deus passou com a sua força protetora, para salvar o povo e o conduzir para fora do Egito. O povo israelita imolou o cordeiro, ungindo com o seu sangue os umbrais das portas; assada a carne, eles a comem rapidamente, porque é a "Páscoa do Senhor" (Ex 12,11).
Os cristãos acolhem o fato histórico da libertação do Egito, recordando feitos prodigiosos de Deus ao longo da história. Todavia, o encontro do sepulcro de Jesus vazio numa manhã de Páscoa apresenta um novo elemento: como é que o corpo dele não está onde havia sido colocado? É uma ausência indevida, mais angustiante do que a própria morte, pois rompe a única certeza indubitável.
A ressurreição de Jesus responde às interrogações mais profundas do coração humano
A fé na ressurreição de Jesus celebra sempre e de novo a certeza de uma presença viva e pessoal. A ressurreição significa a realização total das capacidades que Deus colocou dentro da existência humana. Para intuir o que seja a ressurreição, é necessário falar sobre Jesus e a partir de Jesus Cristo: "um homem que passou por entre nós fazendo o bem" (At 10,38) e que "fazia bem todas as coisas" (Mc 7,37). Assim, sempre que o ser humano se empenha por criar mediações mais fraternas no convívio social, quando a esperança é capaz de resistir ao cinismo e ao desespero, quando no mundo crescem as condições para uma vida autenticamente humana, quando triunfa a justiça sobre a exploração, dominação e destruição, está acontecendo ressurreição. A ressurreição é um processo que começou com Jesus e se propaga até envolver toda a Criação.
A ressurreição de Jesus responde às interrogações mais profundas do coração humano. Ela é outra coisa que o reavivamento numérico de um cadáver! Por ela, Deus responde às mais radicais interrogações do ser humano de todos os tempos. Trata-se da maior boa-nova revelada na história. Ela é a concretização pura e simples do que Jesus pregou e testemunhou: o Reino de Deus que é Reino da vida, da justiça e da bondade, em favor do qual todo ser humano de boa vontade é convidado a se empenhar. Abençoada Páscoa!