Os agropecuaristas brasileiros enfrentam um ano desafiador em termos de preços de seus produtos. Culturas como a soja e o milho se afastam dos picos das cotações de 2022 e mesmo dos valores praticados pelo mercado no ano passado. A atividade leiteira segue atravessando uma crise severa e o segmento de carnes também passou por um período de recuo de valores pagos no campo. A exceção agora é a orizicultura, que, após sucessivos ciclos no vermelho, começa a colher a segunda safra seguida com uma remuneração acima dos custos.
O desejado é atingir um equilíbrio de longo prazo, que assegure rentabilidade no campo e preços acessíveis na cidade
Trata-se de uma boa notícia em especial para o Rio Grande do Sul, que concentra cerca de 70% da produção nacional de arroz. A cotação da saca de 50 quilos do cereal chegou a superar R$ 130 em janeiro. Mesmo com uma acomodação a partir da entrada da safra nova, especialistas avaliam que os preços aos agricultores tendem a permanecer firmes ao longo do ano, com um piso de R$ 100.
É um cenário, portanto, positivo para os produtores, que nas última décadas, em regra, encontram dificuldades para não verem seus gastos com a lavoura superarem o faturamento. O resultado dessa crise quase crônica tem sido o endividamento, a desistência da atividade, a redução de área plantada e a concentração de terras. Premidos pelos compromissos, muitos produtores acabam comercializando a safra logo após a colheita, sem conseguir aguardar o melhor momento para vender.
Obviamente, não há motivo para entusiasmo exagerado. Mas, sem dúvida, o produtor atravessa um período que pode contribuir para a recuperação da saúde financeira abalada de suas propriedades e, assim, permanecer na cultura, estancando a queda na área cultivada de uma das lavouras mais tradicionais do Estado, que fez o Rio Grande do Sul ser pioneiro na irrigação no país. É um respiro para a orizicultura
Segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o Estado teve na última safra a menor extensão dedicada ao cereal nos últimos 25 anos. Este foi um dos fatores que levaram à reação dos preços. Agora, no ciclo 2023/2024, a área plantada é de 900,2 mil hectares, um incremento de 7,17%. Interessante notar outra informação da autarquia. O plantio de soja nas áreas de várzea, vocacionadas para o arroz, recuou 16%. Ao que parece, ocorreu um movimento contrário ao observado nos últimos anos devido à rentabilidade superior da oleaginosa.
A cautela é aconselhada exatamente pelas oscilações normais de mercado. Depende do balanço da oferta e da procura nacional, das exportações e importações do Brasil e da dinâmica do mercado internacional. A recente valorização é bastante relacionada a movimentos na Ásia, continente que concentra grande parte da produção e do consumo do grão no planeta.
Não deve ser esquecido que, por outro lado, o consumidor também passou a pagar mais caro pelo arroz, ingrediente que, junto ao feijão, forma a dobradinha clássica do prato do brasileiro. A alta acumulada no ano passado foi de 24%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, apurada pelo IBGE. Mas, devido à queda de preços de outros produtos, o custo da alimentação no domicílio caiu 0,5% no país no ano passado. Houve compensações, portanto.
O importante é evidenciar que produtores e consumidores não têm interesses diametralmente opostos. Quando produtores têm prejuízos seguidos, tendem a desistir da atividade ou diminuir a produção. As famílias que, em um primeiro momento, se beneficiam do preço deprimido tendem depois a serem afetadas pela oferta menor. O desejado é atingir um equilíbrio de longo prazo, que assegure rentabilidade no campo e preços acessíveis na cidade.