Por Jônatas Marques Caratti, doutor em História pela UFRGS e professor do Curso de História da Universidade Federal do Pampa
Nos primeiros meses do ano ingressam nas universidades os aprovados no vestibular e no Enem. Ao mesmo tempo, que egressos participam com seus colegas e familiares de sua tão esperada formatura, ritual de passagem que outorga grau e dá direito de exercerem sua profissão. Fui convidado para ser paraninfo da 10ª turma do curso de Licenciatura em História da UniPampa e isso me deixou com a responsabilidade de escrever um discurso de formatura.
Naquele momento, ao rabiscar as primeiras palavras, imaginei a seguinte cena: familiares felizes e orgulhosos, o sorriso dos formandos e sua emoção ao receber o diploma. Ocorre que a trajetória dos estudantes e suas dificuldades para permanecer na universidade não podem ser esquecidas. Os historiadores se preocupam em observar o contexto, a totalidade, e não fatos isolados. Obviamente, que compartilhei alguns conselhos: construam aulas significativas, tenham uma postura interdisciplinar na sala de aula, não esqueçam o nome de seus alunos e formem estudantes que pensem por si próprios.
Porém, foi preciso lembrar que nos últimos anos houve seguidos cortes de orçamento nas universidades públicas. O contingenciamento das verbas do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) tem inviabilizado a permanência dos estudantes na universidade. Falta estrutura para receber alunos de baixa-renda, que vem de longe, deixam suas casas e familiares, esperando um dia poder se formar, porém, poucos conseguem chegar lá. Por isso, não me parece coerente, nem justo, proferir um discurso doce e otimista. Discurso de formatura também pode ser um ato político. A situação é grave e não parece que vai melhorar. Enquanto os ministros Vélez Rodrigues e Sergio Moro assinam acordo para investigar indícios de corrupção no MEC, ainda aguardamos para saber quais serão os programas do governo para a área de educação.