Por Clàudio Janta, vereador de Porto Alegre
A relação entre liberdade e segurança talvez seja a mais difícil de contingenciar nos tempos atuais. A tendência, quando um dos lados pesa mais nesta balança, gera reflexos no comportamento individual e coletivo das sociedades, determinando escolhas políticas, preferências de consumo e modificando o crivo em relação à ausência de regras quando isto implica em negligência diante da violência.
A reportagem veiculada pela Zero Hora, no último sábado, mostra como a criminalidade vê nos aplicativos um novo nicho facilitador de assaltos, que já deixa um rastro de violência e morte. Quando as companhias iniciaram as atividades em Porto Alegre, era difícil impor qualquer norma às empresas sem que isto significasse atentar contra os ideais da liberdade de iniciativa e de escolha do usuário.
Simples, funcional e com o apelo da modernidade, o modelo defendia que a regulação fosse feita pelo próprio mercado, gerando, no âmbito financeiro, máximo aproveitamento para as partes interessadas: o usuário pagaria menos, o motorista ganharia mais e a empresa, como mediadora, garantiria seus lucros. Porém, quando começam os problemas, é preciso assumir as responsabilidades.
Muitas das restrições defendidas no âmbito da regulamentação e encaradas como cerceadoras ou proibitivas, são hoje demandadas por quem sofre na pele. No ano passado, denunciando a onda de assaltos, motoristas mobilizaram-se pelo fim do pagamento das corridas em dinheiro e por normas mais rígidas no cadastro. Casos de má conduta e escândalos de assédio por parte de prestadores do serviço também foram relatados por usuários, acendendo o alerta para a necessidade de mudanças.
Se lá atrás as tentativas de construir uma regulação mais sólida e segura foram vistas como retrocesso ou apego a modelos ultrapassados, precisamos trazer o foco para a demanda atual. A liberdade hoje clama por segurança e os usuários e colaboradores esperam providências. Para nós, as pessoas sempre estiveram em primeiro lugar e, agora, as ações necessárias significam salvar vidas.