Por Marcia Andrea Bühring, advogada e professora de direito ambiental da Escola de Direito da PUCRS
A encíclica Laudato Si’, publicada pelo papa Francisco em 2015, representa um marco na reflexão contemporânea sobre a crise ecológica global. Ao propor uma “ecologia integral”, o Pontífice oferece uma abordagem inovadora, que reconhece a profunda interdependência entre o ser humano, a natureza e as estruturas sociais. Trata-se de um chamado ético e espiritual a uma mudança de paradigma: sair da lógica do descarte e do consumismo para adotar uma visão de cuidado, responsabilidade e solidariedade com a Casa Comum, sim “nossa Casa Comum” pois o planeta é um só, não há plano B (planeta B).
Mais do que um documento religioso, Laudato Si’ é um convite ao diálogo entre ciência, política, economia e espiritualidade, propondo soluções para os grandes desafios ambientais do nosso tempo. A exemplo das mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e a injustiça socioambiental. O papa Francisco alerta que os efeitos da degradação ambiental atingem, de forma mais severa, as populações mais pobres, revelando que a crise ambiental é também uma crise social, econômica e moral.
Trata-se de um chamado ético e espiritual a uma mudança de paradigma
Neste contexto, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), alinhada à sua missão humanista e cristã, incorpora os ensinamentos da Laudato Si’ no ensino do direito ambiental. Pois como professora de direito ambiental da graduação, da Escola de Direito, percebo que a encíclica serve como base para uma formação jurídica crítica e comprometida, que transcende a mera aplicação normativa e busca promover uma cultura do cuidado, da justiça e da sustentabilidade.
Em sala de aula, os estudantes são estimulados a compreender o meio ambiente como bem essencial à dignidade da pessoa humana e ao bem comum, integrando os saberes jurídicos com valores éticos e socioambientais.
Ensinar direito ambiental à luz da Laudato Si’ é formar profissionais conscientes de seu papel na construção de uma sociedade mais justa, sustentável e solidária. É apostar em um futuro em que o direito seja instrumento de transformação e de proteção da vida em todas as suas formas.