Por Luiz Carlos da Cunha, escritor
De tempos em tempos, emergem entusiastas da conquista de Marte no escopo de adaptá-lo ao padrão biológico terráqueo, antevendo a possível colonização humana. Não faltou a teorização erudita do astrônomo Carl Sagan, que profetizava a migração humana para além de nossa galáxia qual determinismo evolutivo da espécie. A Nasa mantém estudos a respeito. São conhecidas as dificuldades para a empreitada em manter a água em estado líquido no planeta vermelho pela ausência de pressão atmosférica suficiente e outros empecilhos intransponíveis no atual estágio da ciência.
Este arroubo migratório planetário soa às mentes analíticas mais exigentes como alienação terráquea diante das calamidades que nos assolam. Temos a desafiar-nos a pressão migratória africana sobre a estabilidade socioeconômica europeia. Situação dramática que vem convencendo estudiosos da questão de que o Ocidente, em vez de tentar barrar os fugitivos da África, deveria promover o desenvolvimento daquele continente na conjunção inarredável da imensa energia populacional ora desperdiçada em sociedades ainda primitivas. A África, mercê do retardo econômico e cultural, conta com o potencial energético do deserto do Saara a desafiar a ciência transformadora atual.
Há 300 milhões de anos, o Saara era área verdejante e prenhe de vida animal. Um programa mundial de resgatá-lo em alguns séculos, implantando energia solar, captação de águas profundas, umidificando em círculos crescente à volta de oásis, expandindo as florestas do centro africano na direção norte, canalizando a rica hidrografia que se estende do Senegal, bacia do Congo, até a banda oriental do Nilo Branco; a água levada do fértil ao deserto e espargida à sombra dos captores solares a pouco e pouco, fertilizando o solo da pré-histórica floresta.
A energia imensa da população autóctone na faina transformadora da própria natureza. Radicando-se ao solo pátrio pelo trabalho, seu horizonte escancarado à vida produtiva, superando pela ciência o dilema da solução migratória africana: contê-la no limite da estabilidade cultural e econômica europeia.