
Prometidas para o início desta semana, as medidas fiscais a serem anunciadas pelo governo federal precisam se mostrar capazes de enfrentar um problema em dobro pela frente. Além de as contas de 2017 não estarem fechando, as de 2018 acenam com um descompasso ainda maior entre receitas e despesas do que o previsto inicialmente. E a decisão sobre o tamanho estimado para o déficit precisa ser tomada logo, para que o próximo orçamento possa ser aprovado pelo Congresso até 31 de agosto. É por isso que o país vive dias decisivos. Está em jogo não apenas a credibilidade do governo, mas a de sua equipe econômica, que se constitui no principal trunfo para garantir a confiança dos investidores no país.
Até agora, o Planalto vinha trabalhando com a ideia de déficit ainda elevado mas em queda para 2018, o que, pelo menos, era uma sinalização positiva. A dificuldade de cumprir a meta para este e para o próximo ano significa um desgaste para a equipe econômica. O presidente Michel Temer assumiu o comando do país justamente com o compromisso de encontrar soluções para a desastrada situação das finanças públicas que herdou de sua antecessora.
Desde então, houve melhoras importantes, como a definição de um teto para os gastos públicos e a queda da inflação a patamares inéditos. A atividade econômica, porém, segue estagnada, com reflexos preocupantes no nível de emprego e na arrecadação, o que contribui para agravar ainda mais o déficit.A crise política, acirrada com a denúncia dos donos da JBS envolvendo o próprio presidente da República, contribuiu para que as tão criticadas dificuldades financeiras do setor público se agravassem de forma preocupante, em pouco mais de um ano. O governo já não fala mais em equilibrar as contas, mas em redefinir uma meta com folga para o déficit primário, que já é elevada tanto para este quanto para o próximo ano.
Assim como o descumprimento, a revisão dos objetivos é ruim para o país, pois gera insegurança.Diante do quadro atual, o importante é que, na disputa entre as áreas política e econômica em relação ao que precisa ser feito agora para evitar o pior, prevaleçam argumentos técnicos. Este é o momento de o governo reafirmar seu compromisso com a austeridade e levar adiante reformas hoje paralisadas pelo agravamento da crise política.