* Jornalista
Nos últimos dias circulou nas redes sociais o caso de uma aluna negra, estudante de jornalismo, que registrou um boletim de ocorrência contra o professor depois de ele ter afirmado, na frente da turma, que o cabelo dela, crespo estilo black power, "chama mais a atenção que a notícia" e que, por isso, não poderia ser apresentadora de um telejornal.
Como não ser triste o ambiente acadêmico, onde se deve zelar pelo conhecimento, educação e excelência, ainda contratar os que andam no sentido contrário do que é urgente: a promoção da diversidade?
Eu já fui âncora de dois telejornais, inclusive um deles na Universidade e outro em rede nacional. Mas tive pais, mestres, colegas e um orientador que sempre me encorajaram. Nunca me alisavam os cabelos, nunca maquiaram minha pele com uma cor que não me honrasse, não me obrigaram a mudar minha personalidade, nem me afastaram do que me levou para o jornalismo: a cultura marginal, o skate, o hip hop, a arte urbana, a rua.
Nesse novo momento no Grupo RBS, como repórter de cultura e comportamento para o Jornal do Almoço, tenho mais uma vez espaço para minha bagagem de 37 anos, mas não é só pra mim. É pra mim e pra ti que escutou de professor que não pode/não será porque tem a pele preta.
Pra ti que carrega a bandeira de arco-íris e luta para ser aceito num corpo em que tu não te reconhece. Pra ti que é trans, que é bi, que é rua, que embala o skate e que tem os dedos sujos de spray e canetão. Pra ti que entra na lojas e não se vê nas vitrines, e a modelagem das peças não cabem no teu corpo "fora do padrão".
Pra ti que compra de marcas locais e reforça a moda com mão de obra justa. Pra ti que aprova teu evento em cima da hora porque até então não tinha patrocinador e realiza na "guerreiragem" com as caixas de som na rua. Esse novo espaço é pra mim e pra ti, porque pra gente que sempre precisa provar mais, meu espaço é nosso. Eu só sei ser assim: nós por nós, pela música, pela arte, pela cultura para todos e todas. #resistência
"Sou porta-voz de quem nunca foi ouvido. Os esquecidos lembram de mim porque eu lembro dos esquecidos." – Emicida