Mais uma vez transformada em tribunal, a Câmara dos Deputados vota nesta segunda-feira o pedido de cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de manter contas secretas no Exterior e de ter mentido sobre elas a seus pares, em depoimento à CPI da Petrobras, no ano passado. A mentira é o pretexto legal, como foram as pedaladas fiscais para a presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment. Na verdade, Cunha está prestes a perder o mandato pelo conjunto da obra: acusação de receber propina de diversas empresas, crime tributário, falsificação de documentos, manipulação do regimento interno da Câmara para se beneficiar, pressão sobre colegas e até mesmo o uso do nome de Deus em suas causas eleitorais. O feito mais notável da carreira política, porém, foi o recente litígio com o governo petista, que o levou a deflagrar o impeachment presidencial.
Cunha transformou-se no maior vilão da política depois de ter mentido descaradamente na CPI e de ter dificultado o trabalho da Comissão de Ética durante vários meses. Só começou a perder força quando teve seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, por obstruir as investigações contra si próprio. Depois de relutar mais alguns dias, renunciou à presidência da Câmara e se disse vítima de vingança por ter ajudado o país a se ver livre "do governo criminoso do PT".
Ainda que o novo presidente da Câmara tenha marcado a sessão de julgamento de Cunha para uma segunda-feira, dia em que poucos parlamentares costumam comparecer ao Congresso, espera-se que os deputados não se omitam, pois os brasileiros não suportarão mais artifícios para proteger um político que desonra o mandato e desconsidera seus representados. Se não fosse por todas as falcatruas de que é acusado, Cunha deveria ser cassado por menosprezar a inteligência das pessoas ao dizer que os recursos suspeitos depositados no Exterior não lhe pertencem porque são administrados por um truste, do qual ele é apenas beneficiário e não titular.
O inaceitável é que ele continue sendo beneficiário das próprias mentiras e desse jeito velhaco de fazer política.