Anitta estava tão à vontade no palco do Planeta Atlântida que nem parecia que a última vez em que a funkeira se apresentou no festival foi no já longínquo 2020. De lá para cá, muita coisa aconteceu no mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul — mas não mudou em nada a conexão dos planetários com a artista.
Anitta subiu ao palco às 23h54min, sendo a ponte entre os dois dias de evento, visto que seu show se estendeu até a 1h08min. E ela entregou.
Com um cenário recheado de grades para abrigar as suas performances e dos dançarinos, a sua apresentação foi explosiva, recheada de coreografias, fogos e cores, bem como ritmos e línguas — do português, passando para o espanhol e, até mesmo, inglês. Reafirmou, em solo gaúcho, que transcendeu e, hoje, é, também, uma artista do mundo.
A apresentação de Anitta iniciou com um vídeo dela falando sobre sua religiosidade e cravando: “Não mexe comigo que eu não ando só”. A primeira faixa apresentada foi a trilíngue Funk Rave, já emendando com Grip. Na sequência, a Saba virou uma passarela para que o pop e o funk desfilassem com Joga pra Lua, sucesso da funkeira em parceria com Dennis e Pedro Sampaio — que entra mais tarde, para encerrar a primeira noite.
A frase da canção que integra o álbum Funk Generation, “De longe eu te avistei / Bateu uma sintonia”, parecia conversar diretamente com a troca que Anitta estava tendo com o público na noite. Foi de outro planeta, como diz a própria música. Um show digno dos grandes.
A proibidona Savage Funk já abriu caminhos para que Anitta mostrasse todo o seu talento de dominar o palco, com coreografias que não deixam nada a desejar de qualquer apresentação de grandes estrelas do pop e, claro, muito rebolado.
O setlist da artista foi uma viagem por várias fases de sua carreira, com amostras de vários de seus sucessos e de suas vastas parcerias, com os nomes mais em destaque do cenário nacional e mundial. E impressionou que nenhuma das músicas de Anitta passou batida pelo público, que cantou e dançou em todas.
Mesmo que ela já tivesse ganhado o público com as suas músicas mais recentes, as antigas apareceram no setlist e, então, o Planeta Atlântida veio abaixo. A primeira a aparecer foi Vai Malandra, de 2017, que, mesmo em versão reduzida, colocou a Saba a repetir os passinhos consagrados. Ninguém esqueceu. Depois, o público foi até o chão com Combatchy, icônica parceria com Lexa e Luísa Sonza.
— Que maravilha estar com vocês de novo depois de tanto tempo — disse Anitta, anunciando um “recado importante” na sequência:
— Vocês acharam que eu não ia rebolar a minha bunda hoje?
Com Movimento da Sanfoninha, ela transformou o palco em uma "roda funk". Rebolando com seus dançarinos, Anitta deixou os planetários eufóricos e com condições de apenas gritarem “uhull” — entre alguns “meu Deus”, incrédulos com a malemolencia da artista.
Bang, lá de 2015, foi outra que figurou no show, mostrando que Anitta se transforma, mas se orgulha de sua trajetória. E o público sentiu, dançando e celebrando a apresentação em si, mas também a jornada da artista. Downtown trouxe novamente o espanhol da estrela para o centro e, claro, os gaúchos, que são mestres do portunhol, cantaram junto.
Já Envolver, realmente, envolveu. A Saba ficou em transe ao ver Anitta fazendo sua performance no chão.
Sei Que Tu Me Odeia e uma Sua Cara remixada, uma na sequência da outra, não deixaram ninguém parado. Uma enorme cortina vermelha apareceu no palco — e, mesmo dando uma travadinha na hora de descer —, foi essencial para uma performance de luzes e fogos que criou um clima de mistério e sedução na Saba, com São Paulo, parceria com The Weekend, tocando. A atmosfera foi quebrada pela própria Anitta gritando:
— Sai do chão!
Deixa Ele Sofrer marcou o momento mais introspectivo da apresentação, com a artista entregando uma versão acústica — no palco, somente Anitta e o microfone.
A introdução de Blá Blá Blá abriu outra rodada de músicas que ajudaram a construir a estrela Anitta, como Show das Poderosas — e todo mundo colocou a mão debaixo da boca para a parte do “vai ficar babando”.
Um dos pontos mais interessantes do show foi quase no final, quando parecia que a banda gaúcha DeFalla iria invadir o palco principal. Afinal, a batida de Popozuda Rock ‘n’ Roll pôde ser ouvida tomando conta da arena do Planeta Atlântida. Mas, ao quando a letra começou, era Capa de Revista, novo hit de Anitta, do álbum Ensaios da Anitta, que tem sample do clássico dos anos 2000.
“Glamourosa, poderosa, muito fácil de lidar / A minha cabeça é rara, difícil de acompanhar / Eu sou p*ta, inteligente, não tenta me limitar / Sou boa de dar trabalho pra quem sabe me estudar, ó”, cantou a funkeira. E a som, mesmo novo, já estava na ponta da língua da gurizada.
Boys Don't Cry ainda colocou o pop de Anitta a ser reverenciado na Saba. Onda Diferente, parceria com Ludmilla e Snoop Dogg, trouxe de volta ao palco os dançarinos de Anitta que, novamente, entregaram muito, com a diva orquestrando a apresentação. O nível ainda subiu com Favela Chegou e Modo Turbo — o público parecia, neste momento, menos cansado do que no início. Foi um show reenergizante, que ainda teve Rave de Favela e Lose Ya Breath, mas, pelo público, poderia ter muito mais.
— Foi foda pra caralh* essa noite —finalizou Anitta.
E ela estava certa.