Por Pedro Doria, jornalista, cofundador do Canal Meio e membro do Conselho Editorial da RBS
Como fica o problema da desinformação com a mudança das regras na Meta? Na virada do ano, o fundador e CEO Mark Zuckerberg ocupou suas redes para dizer que o conteúdo político voltará a ser distribuído livremente no Facebook, no Instagram e no Threads. Até então, e já fazia um tempo, o algoritmo continha qualquer coisa que cheirasse a política. A moderação vai pegar muito mais leve e os sistemas automáticos que procuram desinformação perderão seus dentes. Qual o efeito disto na sociedade e como mexe com nosso ofício aqui, o do jornalismo?
Uma democracia precisa de fatos e precisa do debate que nasce dos fatos
Ao menos por enquanto, as mudanças de regra da Meta não valem para todo o mundo. No que tange à moderação, estão contidas nos EUA. O discurso político, sim, ele está circulando muito mais. Só que, aqui no Brasil e fora daquele espaço governado por Donald Trump, as agências de checagem ainda atuam a toda. Isto inclui o financiamento, por parte da própria Meta, destes empreendimentos de imprensa cujo trabalho é bastante simples: separar, naquilo que viraliza, o joio do trigo. O que pode ser confirmado em fontes oficiais e o que não tem rastro que permita confirmar sua veracidade.
Os fatos existem. De alguma forma, nos últimos anos, caímos num relativismo que nos põe em risco a todos. Podemos chegar a conclusões distintas sobre o que os fatos querem dizer. Mas eles seguem existindo. O índice de inflação é um só, calculado pela mesma instituição seguindo uma mesma fórmula. Pode ser bom para um governo, pode ser ruim. E, ainda assim, ele estará lá. O número de desabrigados pelas cheias também não muda. É contar quantas casas se perderam, quantos moravam ali e não têm mais onde ficar. Este é o fato. Vamos discutir, pois, quem é responsável pelas perdas.
Uma democracia precisa de fatos e precisa do debate que nasce dos fatos. Há espaço para direita e para esquerda apresentarem suas leituras. O que não tem espaço é para que direita ou esquerda escolham os fatos que gostam, os que escodem e, pior, que ainda lancem invenções. Democracias dependem de que as pessoas compreendam os problemas que existem realmente e decidam sobre quem oferece a melhor solução.
Zuck chegou à conclusão de que fatos não são mais tão importantes em suas redes. É seu direito e nosso azar. O trabalho da gente, da imprensa, continua aqui porque alguém precisa fazê-lo. Os fatos, afinal, teimam em seguir existindo.