Nosso sistema monárquico - governo de um só - chamado presidencialista está estribado na sujeição do Parlamento, basicamente efetivada pelo fatiamento da administração pública, centralizada ou não, e pela criação de empresas estatais e suas subsidiárias. Forma de governar fortemente agravada por ser o Congresso um órgão absolutamente irresponsável, que não pode ser dissolvido em hipótese alguma, e nele estarem representadas inacreditáveis e absurdas três dezenas de partidos. A criação de novos órgãos e mais cargos, além de provocar aumento nas despesas, desvia recursos das atividades fins para as atividades meio. Mais grave, em termos de racionalidade administrativa, esse fatiamento é devastador.
Quando a economia vai de vento em popa, o governo imprime velocidade maior em seus gastos. Cada novo órgão exige verbas e programas próprios, sem os quais a adesão ao governo não teria sentido. Os programas sociais e de incentivos econômicos, que vão perdurar muitas vezes por décadas, são aprovados aos borbotões, não só pelo Congresso como pela opinião pública, pelas diversas organizações da sociedade civil e, verdadeiro paradoxo, até pelas entidades empresariais, sempre vigilantes em relação ao aumento de impostos. A chamada governabilidade junto ao Congresso é conquistada. As oposições são praticamente aniquiladas e a base parlamentar do governo se torna avassaladora.
Quando os ventos mudam - e um dia sempre mudam - a crise fiscal se abraça à econômica e ambas produzem um violento sorvedouro. A ingovernabilidade se instala nas entranhas do próprio governo com a formação de trincheiras de resistência a toda e qualquer decisão de frear a gastança. O rombo nas finanças públicas não estanca, ao contrário, se amplia. A tempestade política se agrava, pois não há mais moeda de troca. Os partidos que ocupavam "espaços" simplesmente desembarcam do governo. Impossível a travessia da crise em direção a águas menos revoltas.