Por Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte e secretária do Conselho Editorial da RBS
Nesta semana, a decisão de Mark Zuckerberg de suspender a checagem de fatos na Meta (dona de Facebook, WhatsApp, Instagram) ligou um alerta. Não se trata de uma mera mudança nas redes sociais: é um passo a mais na desvalorização da verdade e um incentivo à desinformação. O movimento aumenta nossa responsabilidade como jornalistas na defesa da população diante do caos informacional a que todos estamos expostos.
Checar fatos não é uma opção em redações. É um dos alicerces do jornalismo, aprendido no primeiro dia de aula nas faculdades de Comunicação e, em última instância, um dos pilares da democracia. Sem democracia, narrativas falsas ganham ares de verdade e a audiência se torna ainda mais exposta a um oceano de conteúdos produzidos com segundas intenções. Em tempos de radicalização e polarização, a desinformação não é neutra. Está a serviço de manipular opiniões, influenciar eleições, fragilizar instituições e potencializar crises, seja em pandemias, enchentes ou outras calamidades.
Se já vivemos, nos últimos anos, as consequências desastrosas da desinformação, qual será o custo para as comunidades de torná-la ainda mais indetectável?
O abandono da checagem de fatos é, portanto, um convite à escalada da desinformação e da manipulação. No algoritmo misterioso das redes, o que importa é cada vez mais engajamento do usuário. E, como já referido neste espaço, nada cola mais do que fake news sensacionalistas. Se já vivemos, nos últimos anos, as consequências desastrosas da desinformação, qual será o custo para as comunidades de torná-la ainda mais indetectável?
Nesse contexto, o jornalismo profissional, realizado com método, ganha uma relevância sem precedentes. Enquanto redes sociais priorizam cliques (e somos todos vítimas disso, diariamente), os veículos de comunicação sérios se mantêm fiéis ao método: ouvir todos os lados, contextualizar os fatos, apurar com rigor e responsabilidade. Mais do que informar, cabe ao jornalismo defender sempre a verdade, construir confiança com seu público e se firmar como a alternativa segura diante do abismo da informação de má qualidade.
O fim da checagem na Meta, por enquanto válido apenas para os Estados Unidos, reforça a necessidade de se valorizar a imprensa como aliada da sociedade e guardiã da verdade. Neste mundo cada vez mais sem filtros, o jornalismo segue sendo o que garante a curadoria entre o que é e o que só parece ser.