Por Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte e secretária do Conselho Editorial da RBS
Você já tentou ler um artigo longo e, antes mesmo de chegar ao terceiro parágrafo, percebeu que seu pensamento havia escapado para outro lugar? Já sentiu a necessidade quase instintiva de checar o celular, abrir uma rede social ou clicar em uma notificação qualquer? Se sim, você não está sozinho. Nossa atenção se tornou um campo de disputa, um recurso valioso no mercado digital. Na chamada economia da atenção, a lógica é simples: vence quem prende o olhar por mais tempo.
No Grupo RBS, compreendemos essa transformação e estamos determinados a enfrentá-la sem comprometer nossos princípios
O problema é que esse modelo privilegia o que é imediato, emocional e viciante. Notícias sobre crimes, tragédias ou polêmicas acaloradas geram engajamento instantâneo, enquanto reportagens sobre temas estruturantes – como desenvolvimento econômico, infraestrutura, inovação ou educação – exigem tempo, reflexão e concentração. O jornalismo enfrenta, então, um paradoxo: precisa continuar abordando os temas essenciais para a sociedade, mas lida com públicos cada vez mais impacientes e dispersos.
Diante desse cenário, os jornalistas têm uma responsabilidade ainda maior. Não basta apenas informar, é preciso conquistar a atenção do leitor sem abrir mão da profundidade e do rigor. Em um mundo saturado de estímulos, como fazer com que uma investigação sobre os desafios da mobilidade urbana de Porto Alegre tenha o mesmo impacto de um escândalo político ou de um vídeo viral? Como mostrar que as decisões econômicas de hoje definirão o futuro do Rio Grande do Sul sem que esse tema seja rapidamente descartado pelo leitor em meio a um feed infinito de conteúdos?
No Grupo RBS, compreendemos essa transformação e estamos determinados a enfrentá-la sem comprometer nossos princípios. Isso significa investir em formatos inovadores, explorar narrativas mais envolventes e conectar grandes temas ao cotidiano das pessoas. O jornalismo analítico e as reportagens investigativas seguirão sendo a espinha dorsal do nosso trabalho, mas precisam ser apresentados de forma mais atrativa, com recursos audiovisuais, linguagem acessível e uma abordagem que desperte curiosidade.
Não podemos nos render à lógica do conteúdo descartável. Nosso compromisso é seguir contando as histórias que importam, ampliando a visão do público e contribuindo para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O desafio da economia da atenção é real, mas a missão do jornalismo permanece a mesma: trazer à luz o que é relevante, dar voz à sociedade e ajudar a construir um futuro mais informado e consciente.