Por Nelson P. Sirotsky, publisher e presidente do Conselho da RBS
Nas últimas décadas, o Rio Grande do Sul vem perdendo posições na maioria dos rankings econômicos, sociais e políticos do país. Polarização generalizada, lideranças fragilizadas, isolamento político, entraves institucionais, além de questões climáticas e muitos outros fatores, explicam a perda de um protagonismo que já foi muito relevante em outras épocas. A enchente de 2024 escancarou ainda mais essa vulnerabilidade. Paradoxalmente, está criada uma oportunidade – talvez única – de se construir um novo futuro para a sociedade gaúcha.
O Rio Grande do Sul precisa de pontes – físicas e simbólicas
É com esse espírito que o Grupo RBS inicia, a partir do dia 24, uma nova fase da campanha Pra Cima, Rio Grande. O momento pede mais do que cobranças e exposição dos problemas. Pede ainda mais jornalismo com propósito e busca de soluções concretas. A ideia não é silenciar a crítica quando ela se faz necessária – seguiremos cobrando com a mesma independência e firmeza de sempre. Mas reconhecemos que, além de apontar os gargalos do presente, é preciso inspirar o futuro. É esse o estado de ânimo que estamos assumindo editorial e institucionalmente: o da reconstrução eficaz, da esperança permanente e da concretização de iniciativas e projetos de relevante interesse de todos, impulsionados pelas convergências possíveis.
O Rio Grande do Sul precisa de pontes – físicas e simbólicas. A duplicação da BR-290, a reconstrução de estradas, as moradias, os diques e obras para conter as cheias são temas ainda emergenciais. Mas a urgência não pode vir descolada de contexto. Através do nosso jornalismo, queremos ajudar a sociedade a compreender o que está em jogo, onde estão os entraves, quem precisa agir e não o está fazendo. E, a partir deste entendimento, saber como cada um de nós pode ser agente ativo neste grande desafio.
Existe um plano – o Plano Rio Grande –, que não deve ser somente deste governo, e sim do Estado, de todos nós. Ele precisa ser destrinchado, acompanhado, cobrado, aperfeiçoado. O que avançou? O que está parado? Por que está parado? Quando serão atingidos os resultados desejados?
Esta fase do “Pra Cima” é também, para nós da RBS, momento de reforçar a nossa autorreflexão. Qual a nossa responsabilidade, como empresa de comunicação, em um Estado que vem perdendo protagonismo? Queremos ser parte da solução. Já fomos agentes de transformação na luta contra o crack, na defesa da educação básica, na mobilização pela duplicação de rodovias, no combate à violência contra as crianças. Por que não ser, mais uma vez, por meio do jornalismo responsável, uma força que quer puxar o Estado para cima?
É preciso ampliar o destaque que damos às coisas que funcionam: a inovação que pulsa em eventos recentes como o South Summit ou a Expodireto, a força do voluntariado, histórias admiráveis de superação, a relevância do agro gaúcho, as empresas que seguem gerando emprego e reinventando suas rotas. O RS precisa de referências positivas e elas precisam ser mostradas e valorizadas.
Nosso desafio é duplo: continuaremos sendo duros com quem precisa ser pressionado e colocaremos holofotes nas histórias que merecem ser celebradas. A RBS não vai abdicar do seu papel de cobrar os poderes públicos ou as entidades empresariais. Mas também vai escolher – com coragem e critério – os temas em que pode contribuir diretamente para um ambiente de transformação, como propulsora de mudança.
Estamos comprometidos com o Rio Grande do Sul e com a esperança de que, todos juntos, façamos ele retomar suas relevantes posições históricas.