Os hondurenhos aguardavam com expectativa nesta quarta-feira (29) o resultado da contagem de votos das eleições de domingo, enquanto o opositor Salvador Nasralla via esvair a vantagem que mantinha sobre o presidente Juan Orlando Hernández, em meio a novos temores de fraude.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), que desde terça-feira vinha publicando os dados da apuração em seu site, interrompeu a atualização de sua página por quatro horas entre a manhã e a tarde desta quarta-feira.
Após um boletim pouco antes das 10h00 locais (12h00 de Brasília), com 76,72% das seções de votação computadas, que dava a Nasralla uma pequena vantagem de menos de um ponto sobre Hernández, o site deixou de ser atualizado.
Quando voltou, horas depois, com 77,77% das cédulas apuradas, a vantagem de Nasralla, da esquerdista Aliança Opositora contra a Ditadura e um popular apresentador de TV de 64 anos, tinha caído ainda mais.
Nasralla aparecia com 42,64% dos votos contra 41,75% para Hernández, de 49 anos, que disputa uma polêmica reeleição pelo direitista Partido Nacional (PN).
A diferença foi diminuindo desde o primeiro relatório divulgado pelo TSE na madrugada de segunda-feira, 10 horas depois do fechamento das urnas, quando Nasralla mantinha cinco pontos de vantagem sobre Hernández.
Na tarde de terça-feira, o TSE começou a atualizar o seu site com o avanço dos resultados, reclamados pelos observadores locais e internacionais.
O representante da aliança de Nasralla na contagem de votos, Rasel Tomé, reclamou que a paralisação da apuração nesta quarta sugere uma tentativa de alterar o resultado do pleito.
- Incerteza -
A lenta apuração gera incerteza entre os hondurenhos: muitos se perguntavam o motivo de, três dias depois das eleições, continuarem sem saber quem governará o país nos próximos quatro anos.
"O povo está preocupado porque não deram um ganhador, qualquer que seja, porque ninguém vai consertar o país", lamentou José Rosendo Rosales no parque Las Mercés, em frente à sede do Congresso.
"Em outras eleições até esta data já sabíamos quem era o vencedor, e desta vez não. Estão tramando algo?", questionou.
Indignado com a diminuição da sua vantagem, Nasralla voltou a falar das suspeitas de que os resultados das eleições estão sendo alterados para favorecer o atual presidente.
"Convido o povo hondurenho para defendermos nas ruas o que ganhamos nas urnas", tuitou Nasralla, ao convocar uma manifestação nesta quarta-feira na capital.
Seu principal suporte político, o ex-presidente Manuel Zelaya, derrubado em 2009, fez eco de seu chamado e escreveu na rede social: "os que perderam estão modificando as cédulas, vão declarar JOH (Juan Orlando Hernández) vencedor e roubar a vitória".
- Credibilidade -
Entretanto, o presidente de Honduras falou na terça-feira em sua casa, rodeado de simpatizantes, para terem paciência com os resultados do TSE, embora tenha insistido que o resultado final o favoreceria.
"Como democratas devemos esperar o resultado oficial da contagem de cada cédula pelo tribunal eleitoral (...). É importante que todo mundo tenha paciência", declarou o presidente.
Hernández se candidatou para um segundo mandato amparado em uma polêmica sentença do tribunal constitucional, apesar da Carta Magna hondurenha proibir a reeleição.
Sobre o tema, a socióloga Mirna Flores, da Universidade Nacional, advertiu que o processo eleitoral gerou um descrédito para as instituições que permitiram a candidatura de Hernández.
"Neste país os cidadãos estão deixando de acreditar nas instituições: uma Corte Suprema de Justiça aprova a reeleição, um Tribunal Supremo Eleitoral aceita a inscrição de um presidente quando é ilegal e agora esta instituição não tem legitimidade ante muitos cidadãos porque acreditam que estão tramando uma fraude eleitoral", disse Sosa à AFP.
Igualmente, o ativista Jorge Yllecas, da Frente Patriótica para a Defesa da Constituição, apontou a perda de credibilidade do TSE, que parece responder ao presidente Hernández.
"Hoje temos um Tribunal Eleitoral sem credibilidade, responsável por esta crise por agir como um subalterno do presidente; deveria sair a desautorizar o presidente quando se declarou vencedor e depois quando Nasralla o fez. Criou uma crise, um confronto que pode ter consequências fatais", advertiu em declarações à AFP.
* AFP