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A estilista polonesa Liliana Syrkis faleceu no dia 13 de fevereiro, aos 101 anos, em sua residência no Rio de Janeiro. A morte foi confirmada pela organização para preservação ambiental criada pelo filho, Alfredo. A causa da morte não foi divulgada.
Nascida em uma família judia em 1923, ela enfrentou os horrores da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, construiu uma carreira de destaque na moda brasileira.
Aos 16 anos, Lila, como era chamada, viu sua vida mudar drasticamente com o início perseguição nazista que gerou o Holocausto. Ela, a mãe e a irmã, de seis anos, foram deportadas para a Sibéria, na Rússia, onde ficaram quase sete anos mantidas como prisioneiras. Lá, seu pai, Alfred Binensztok, dentista do exército polonês, foi assassinado em 1940.
Na Sibéria, enfrentaram frio de até -40°C e anos de fome, sobrevivendo principalmente de batatas que plantavam. Lila também sobreviveu ao tifo, uma doença infecciosa, enquanto trabalhava em um hospital siberiano.
Vinda ao Brasil
A família chegou a retornar à Polônia após a guerra, mas descobriram que toda a família havia sido morta nos campos de concentração. Dos mais de 60 familiares, apenas as três sobreviveram.
Um tio que já vivia no Brasil tentou ajudá-las, mas as restrições do governo Vargas dificultaram a imigração. É o que conta a estilista em sua autobiografia Lila. Enquanto aguardavam o visto, viveram quase um ano em Estocolmo, Suécia, onde Lila aprendeu a costurar. Conseguiram entrar no Brasil apenas com a ajuda de um padre sueco, que forneceu certidões afirmando que as judias eram católicas.
Em 1947, chegaram ao Rio de Janeiro, onde o tio lhes providenciou moradia e conseguiu um emprego para Lila no ateliê Casa Colette. Lila abraçou a oportunidade na costura e se destacou rapidamente. Casou-se com Eugenio Syrkis, filho da patroa e também sobrevivente da guerra, e teve um filho, Alfredo Syrkis (1950-2020), que se tornou jornalista, escritor, ambientalista e deputado federal.
Alfredo foi o fundador do Centro Clima Brasil, fundação que nas redes sociais lamentou a morte da estilista:
"Liliana ficou conhecida como a profissional que permitiu o acesso das brasileiras ao que havia de mais sofisticado e elegante à disposição das clientes europeias", diz a publicação.
Nos anos 1960, enfrentou um novo período difícil quando seu filho, militante contra a ditadura militar, precisou se exilar por quase 10 anos. Durante esse período, Lila foi levada diversas vezes ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde contou ter sofrido perseguições e tortura psicológica dos militares.
Considerada a grande dama da alta costura no Brasil, Lila viajava a Paris para acompanhar desfiles de alta costura e trazer tendências para o país. Nos anos 1970, comprou o ateliê onde trabalhava, transformando-o na Maison Liliana, que vestiu figuras da alta sociedade brasileira, como Carmen Mayrink Veiga, Lily Marinho e Sara Kubitschek. Seus vestidos de noiva eram especialmente procurados.
Após fechar seu ateliê quase aos 90 anos, dedicou-se à família e à leitura, sendo fluente em seis idiomas. Sua história foi eternizada no livro Lila e no documentário homônimo, dirigido por seu filho Alfredo Sirkis e Silvio Da-Rin.