Sentado em um banco de madeira vermelho e branco, ao lado da sala de imprensa do CT Parque Gigante, Nonato estica a camisa laranja fluorescente e responde a todas as perguntas com uma naturalidade que chama a atenção. Aos 21 anos recém-completados, parece mais maduro do que a idade sugere. Talvez seja pela situação atual, querido pela torcida, quase titular do time, talvez seja pela extensão do contrato com o Inter até o final do ano, com opção de compra, talvez seja pelo grau de instrução, estudante do quarto semestre de Gestão Financeira, filho de um administrador e de uma pedagoga.
O fato é que o "todo-campista" (como se define) não se intimida com câmera, microfone, gravador e caneta. Na conversa de mais de meia hora com GaúchaZH, lembrou do início da carreira, analisou a ascensão meteórica, falou sobre futuro, modelos de jogadores, futuro e estudos.
A história de Nonato com o futebol não teve muito a ver com a casa. Segundo ele mesmo, se lançar uma bola ao pai, não vai sair duas embaixadinhas. Dois tios até se arriscaram, mas sem brilho. Ainda assim, o menino gostava de jogar, então foi matriculado em uma escolinha de futsal em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Aos quatro anos.
Foi nas quadras que deu seus primeiros chutes e desenvolveu suas maiores virtudes: o passe, a mobilidade e a versatilidade. Ficou lá até os 10, seguiu para a Juventus, do bairro da Mooca, e trocou para o gramado, com ajuda de Renan Guedes, hoje no Atlético-MG. Andou pelo Corinthians até virar profissional no São Caetano. Em um breve período desempregado, teve dos pais uma lição importante. Sem saber se vingaria no esporte, foi orientado a conciliar os estudos com a bola. Após o ensino médio, matriculou-se no curso de Gestão Financeira das Faculdades Anhanguera.
— Não queria parar de estudar, ficar estagnado. Poderia escolher Educação Física, mas como já vivo no esporte 24 horas por dia, resolvi cursar algo fora do meio, que me servisse para a carreira. Isso me ajuda a administrar o dinheiro, saber onde investir. Até porque, infelizmente, vemos jogadores que fazem loucuras. É importante ser consciente — explica.
Estou numa idade em que o importante é estar jogando
NONATO
Sobre funções que pode exercer no time de Odair Hellmann
A consciência também é mostrada ao abordar outros temas que poderiam ser espinhosos. Por exemplo: Nonato vive o momento "queridinho" da torcida. Nas redes sociais e nas arquibancadas, tem o nome pedido por colorados. Uma situação nova para quem, até três ou quatro semanas atrás, não sabia nem se estaria na lista do Gauchão. Ele mesmo admite que a ascensão foi rápida demais e que há muito chão a percorrer para se firmar na equipe. Outro assunto que poderia causar desconforto diz respeito a sua posição no campo. Afinal, Nonato é volante ou é meia?
— Sou meio-campo. Faço qualquer função, errei muito e aprendi muito nesse tempo, apesar de ser jovem. Estou numa idade em que o importante é estar jogando, não tem o que escolher. Depende do que o Odair precisar, estou pronto — garante.
É a versatilidade que pode ajudar Nonato a cavar um lugar no time. Pode ser Edenilson, pode ser D'Alessandro. Mas é no passado que está um modelo pelo qual ele busca inspiração. Há mais do que uma vasta cabeleira nas semelhanças entre Tinga e o promissor meia. A movimentação intensa, a dedicação na marcação, o passe curto certo, a entrada na área adversária como elemento surpresa, tudo teve no bicampeão da América um pioneirismo que Nonato tenta repetir.
— Já me falaram que pareço com Tinga. Um fenômeno, ídolo. Tenho máximo respeito por ele. Se puder fazer metade do que ele fez no futebol, estarei satisfeito — revela o fã de Iniesta, Xavi e Modric, jogadores que habitam seu imaginário de sonho com futuro europeu.
Mas enquanto o Velho Continente não vem — e só virá se Nonato vencer, fizer carreira e for campeão, segundo ele mesmo —, a realidade é Porto Alegre. Ele garante estar adaptado à cidade depois de passar um rigoroso inverno treinando em Alvorada, com a categoria de base. Manteve amizade com os antigos companheiros que ainda buscam um lugar no Beira-Rio e fez novos amigos no time principal. E, mais curioso, um de seus grandes parceiros no Rio Grande do Sul é um antigo colega de São Caetano, mas que joga no Grêmio.
Com Matheus Henrique, formou uma dupla afiada no meio-campo do time paulista e uma amizade consolidada pelo futebol. Suas famílias também se uniram, frequentam a casa uns dos outros, trocam ideias, conversam. Não é porque trabalham em clubes diferentes que deixariam de ser amigos. A rivalidade Gre-Nal tão elogiada por um lado e tão perversa por outro não mexe na relação. Em campo, com a bola rolando, cada um defende seu lado da forma mais séria e profissional, é claro. Os dois vivem até uma situação semelhante: não são titulares, mas gozam de um prestígio com a torcida que transcende estar em campo desde o apito inicial.
Contra o Aimoré, ele deverá ter mais uma chance para provar que o carinho da torcida e a pressão por sua escalação se justificam. Para isso, tentará unir a inteligência que os estudos potencializam, a dedicação que o campo lhe dá, a versatilidade aprendida desde os tempos de futsal e a inspiração em Tinga. Inclusive com a cabeleira esvoaçante, uma marca incentivada pelo pai e que lhe deu um apelido da gurizada da base: "The Lion". O leão quer lugar no time.