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O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O IPCA-15 divulgado nesta terça-feira (25) carrega leituras e movimentos distintos. De um lado, o fato de a prévia de inflação fechar em 1,23%, abaixo do esperado por parte do mercado, que especulava alta na casa dos 1,30%, pode trazer um alívio passageiro sobre a trajetória de inflação.
De outro, ao chegar no maior patamar para um mês de fevereiro desde 2016 (1,42%), reforça o sinal de alerta sobre a guinada nos preços aos consumidores.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que movimentos em ramos ligados ao transporte aéreo e ao setor cultural explicam o percentual abaixo do esperado:
— Esse IPCA-15 veio ligeiramente abaixo da expectativa, porque duas surpresas aconteceram. Passagem aérea teve uma queda de 20% e os cinemas registraram uma redução de 7%. A alimentação também avançou um pouco menos do que se previa, mas ainda é considerada uma taxa bem alta.
No caso das passagens aéreas, Braz afirma que a redução nos preços pode ocorrer diante de aspectos sazonais. Já no caso das atividades culturais, a semana do cinema, que garantiu promoções nas sessões, ajuda a explicar a retração.
O economista lembra que esses movimentos são voláteis e não indicam tendência para os próximos meses.
Fatores de alta
Além dos aspectos sazonais, como alta no grupo de educação, e do repique dos preços de energia elétrica, o IPCA-15 contou com a pressão dos combustíveis.
A maior parte da alta veio do grupo de habitação (4,34%). Parcela do aumento nesse grupo ocorre após o fim do bônus de Itaipu, que segurou a inflação em janeiro. Prova disso é que a energia elétrica residencial foi o subitem com o maior impacto positivo no índice (0,54 ponto percentual) com alta de 16,33% após o recuo registrado em janeiro (-15,46%).
No grupo de educação (4,78%) a alta já era esperada diante dos tradicionais reajustes de matrículas escolares nessa época do ano.
No grupo de transportes (0,44%), o destaque ficou por conta do impulso dos combustíveis, que registraram alta de 1,88% diante de aumentos nos preços do etanol (3,22%), do óleo diesel (2,42%) e da gasolina (1,71%). Essa pressão também já era esperada após reajuste do ICMS e no preço do diesel neste mês.
O grupo de alimentação e bebidas fechou a prévia em 0,61%, abaixo do índice de janeiro (1,06%), mas segue em patamar elevado e no radar.
Para o próximo mês, Braz projeta desaceleração diante do descolamento de alguns efeitos sazonais de fevereiro, mas manutenção do sinal de alerta sobre alimentos:
— Para março, a gente espera uma descompressão. Não vai haver mais esse movimento de energia, aumento de combustível e a questão das mensalidades escolares. Isso fica para fevereiro. Então, para o mês que vem, pode ser que essa taxa caia para metade. O que vai continuar é o monitoramento do preço dos alimentos. Isso de fato preocupa, porque a alimentação já subiu muito ao longo dos últimos anos e é uma questão que vem batendo muito.